A militância progressista no Paraná implica sempre a tarefa de se contrapor à imagem preconceituosa e reacionária de que este nosso estado representaria um Brasil “diferente”, “europeu” e “conservador”, em que não atuariam as contradições e iniquidades deste outro Brasil, “pior” e “exterior”.
Nos três textos de seus três autores que se encontram na esquina da arte, do estudo e da militância, Paraná Revolta desmente esse mito.
Professor do Curso de Direito da UFPR, mestre de advogados e advogadas da reforma agrária, Ricardo Prestes Pazello é também poeta e músico, compositor e sambista. Com acordes de cavaquinho, ele traz, em seu poema-exaltação As quatro fontes da resistência no Paraná, as revoltas indígenas, quilombolas, camponesas e operárias, recriadas como enredo de um desfile que elenca e alista as alas da luta popular que se resgata e se presentifica pela memória.
Fernando Marcelino Pereira tem a veia mais irônica. Cientista político e geopolítico, desconstrutor das famílias oligárquicas, crítico – às vezes cético, às vezes lírico – das muitas malhas sociais que nos envolvem, ele tira do armário a Guerra do pente, que conflagrou Curitiba no final da década de 1950. Uma narrativa em que a revolta, sufocada pela ideologia, abriu caminho por meio da explosão e da “loucura” que antecedem a volta do reprimido.
Retorno e transrrealidade que se radicalizam no Poema-bosta do poeta, músico e artista visual Yuri Gabriel Campagnaro. A brutal revolta do resto, do rejeito, do resíduo excluído da cidade e seu imaginário. Num jogo de contraste e ruptura, o conteúdo cáustico do poema se expressa por versos ágeis e coloridos, pela rima, por aliterações e assonâncias que zombam do mito da Curitiba-modelo e o devolvem à realidade social por meio da indignação e do absurdo.
Um Paraná, enfim, diferente do Paraná diferente e estéril da ideologia oficial. Um Paraná Contestado.
Paulo Bearzoti Filho
Poeta e militante do movimento popular de Curitiba
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Verão de 2022
Revolta Paraná – Yuri Campagnaro, Ricardo Prestes Pazello, Fernando Marcelino.
R$ 39,70 R$ 27,79
Yuri Campagnaro (Curitiba, 1989) é artista visual, poeta e músico, doutorando em Arte e Tecnologia pelo PPGTE-UTFPR, graduando em Gravura pela Embap-Unespar. Trabalha com pintura, desenho, xilogravura e investiga a cor preta e suas possibilidades poéticas. Faz parte do grupo Mímesis – conexões artísticas. Sua produção debate arte e política e possui relação com os fazeres artesanais. Também pesquisa esteticamente a história popular do Paraná e suas narrativas de luta social.
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Ricardo Prestes Pazello (Curitiba, 1985) é poeta, compositor e músico, além de professor nos cursos de graduação e pós-graduação em direito da Universidade Federal do Paraná. Pesquisa na área de direito, movimentos populares e marxismo na América Latina. Militante da Consulta Popular. Sua proposta estética sobre a artepolítica paranaense é ecotonal, buscando resgatar as lutas populares do estado e os trânsitos fronteiriços de sua cultura, política e sociedade.
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Fernando Marcelino (Curitiba em 1987) é graduado em Relações Internacionais, Mestre em Ciência Política e Doutor em Ciências Sociais pela UFPR. Genealogista das famílias dominantes paranaenses. Sinólogo. Shiatsuterapeuta e praticante de Qi Gong. Escreve livros, artigos, traduções, letras musicais e roteiros. Participa do coletivo Mimesis Conexões Artísticas em Curitiba. Militante do Movimento Popular. Publicou o opúsculo “Desencontros e seus golpes” (poesia, 2016) e, pela Kotter Editorial, “88 Haikais” (poesia, 2021) e “Revolta Paraná” com Ricardo Pazello e Yuri Campagnaro (conto, 2021).