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Tendo como pano de fundo os acontecimentos do ano de 1992, o romance Tempo do Corpo (Kotter Editorial, 2021) tem dois fios condutores que vão se entrelaçando gradualmente. Cada um deles com foco em um protagonista, que a princípio parece não ter ligação um com o outro; impressão inicial que vai se modificando quando o passado de cada um vai sendo apresentado pelo narrador.
Num desses fios condutores está Juan Ribeiro, sociopata, narcisista e erotomaníaco (pessoa com transtorno delirante que a faz acreditar erroneamente que outra pessoa está secretamente apaixonada por ela), que mata a esposa com a intenção de pintar o corpo morto dela em um quadro. Além dela, outras mortes são executadas com o único objetivo de se concluir o quadro. Juan é uma pessoa desagradável, fria, que não demonstra nenhum sentimento de compaixão ou remorso. As mortes começam a ser investigadas em conjunto, pois ele adota o desenho da vítima morta como assinatura; por isso, é chamado de Artista da Morte.
O outro protagonista é Paulo Soares, ex-torturador que inicia a narrativa tentando entender os últimos acontecimentos em sua família: a morte da esposa, o filho que ficou tetraplégico e a filha que parece não querer mais vê-lo. Mas, ao mesmo tempo que lida com essas questões, recebe a incumbência de chefiar a força-tarefa que visa descobrir a identidade do Artista da Morte para tirá-lo de circulação. Além disso, começa a ser atormentado por sentimentos paradoxais a respeito de seu passado nos “porões” da ditadura brasileira. Ele ainda tenta se convencer de que só cumpria ordens, que não tem culpa, que foi apenas um instrumento, que não sentia prazer no sofrimento daquelas pessoas. Será que não sentia mesmo?
Tempo do Corpo é um romance de fôlego, com dezenas de linhas temporais e personagens complexos. Foi um dos finalistas do Prêmio Cepe Nacional de Pernambuco, em 2017. Seu autor, Homero Gomes ou Hog, escreve ficção e poesia e esses elementos também transparecem no romance, com sua carga emocional e imagética bem como o suspense, a violência e a narrativa mais intimista.
O escritor curitibano não deixa de alçar a cidade de Curitiba como uma das personagens do livro. Ele retratou diversos bairros da cidade em décadas distintas, mostrando o abismo social que existe entre bairros que muitas vezes são vizinhos. Escolher Curitiba como espaço ficcional expressa não somente o clima mais cinzento e frio, presente na história, mas que também nessa cidade ocorreram crimes terríveis contra os direitos e liberdades individuais, crimes a respeito dos quais se evita falar.
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ISBN: 9786589624851
R$ 134,70 R$ 94,29