Em Vai ser como se eu tivesse morrido, Ederson Hising brinca com a ideia de que pra estar vivo basta morrer algumas vezes. É por precisar de uma prova de vida que seus poemas trazem imagens concretas e um ponto de paragem, o corpo, que se opõem ao abstrato do fim. Ao inaugurar novos óbvios com relações pouco prováveis, Ederson dá conta de trabalhar o desejo, um pulso que mantém a gente seguindo, um trato com o tempo. O livro traz poemas curtos, lapidados com um bisturi, e poemas longos, inebriantes pelo som das palavras – um aparente improviso que não se faz sem técnica. Ederson é um jornalista que é também poeta, mas antes disso é um poeta que é também jornalista e está cansado de contar mortos.
***
deixa o poeta dizer que o livro é sobre morrer várias vezes e seguir vivendo. quem lê decide. para entrar no livro separe seu sorriso de baleia, esteja disposto a “capotar uma reta”, empreste a boca do poeta. interessa aqui testemunhar o mundo com uma pressa pequena, reescrevê-lo pelos caroços e frestas, suspendê-lo quando se prova absurdo ou antecipa o fim.
trata-se, ao mesmo tempo, de receber o estado geral das coisas e operar inconscientemente para alterá-las. muitas imagens flutuam, um tanto do inútil concreto da vida te tira do sonho. o que nos gruda ao presente é a nossa finitude, talvez por isso a pergunta: de que vale a festa?
você está convocado, e além de você, uma e outra ela, alguns mortos, todos os eus do próprio poeta, que apela, ouve o chamado? se for pra falar em voz alta é preciso alguém que lhe olhe os dentes.
tão claro que depois da festa te sobre um pouco pra pensar, pra se arrepender, pra nutrir vontade; e mesmo assim, quando você vê lá se foi mais um dia. amanhã você recomeça a fazer o que se faz com as horas e “esquecer o que se faz com as horas”.
guardando as devidas proporções, mascamos chicletes enquanto velamos a vida, pelo quente do corpo seguimos vivos.
que tudo acaba é mentira, então os poemas deste livro fazem um pouco disto: dão conta do fim como se fosse o último. e de novo. daí encomendar o futuro numa lápide. ser palavra é tudo que temos.
Mayara Blasi
***
Vai ser como se eu tivesse morrido
Autor: Ederson Hising
2023
84 p.
ISBN 978-65-5361-273-0
R$ 49,70 R$ 34,79
Explorando vida e morte em poesia, Ederson Hising renova o óbvio.
No livro Vai ser como se eu tivesse morrido, Ederson Hising brinca com a dualidade vida-morte. Afinal, sugere que viver plenamente talvez exija morrer um pouco. Nesta obra, ele oferece imagens tangíveis, ancoradas no corpo, confrontando a abstração do fim. Inaugurando novas perspectivas através de conexões inesperadas, o autor maneja o desejo como motor da existência, um pacto com o tempo. Ele nos presenteia com poemas tanto sucintos quanto extensos, cada um ressoando com uma técnica apurada. Importante perceber, Ederson não só exerce o jornalismo mas também vive a poesia, cansado de narrar mortes.
Deixe-se guiar pelo poeta: este livro é um convite a morrer várias vezes para melhor apreciar a vida. Quem lê decide seu significado. Para mergulhar na obra, adote um espírito aventureiro, pronto para “capotar uma reta”, emprestando a voz do autor. Interessa aqui testemunhar e redefinir o mundo, explorando suas nuances e paradoxos.
Ao mesmo tempo, é uma jornada de confronto e transformação do cotidiano. Imagens efêmeras flutuam, desafiando a realidade concreta que nos arranca dos sonhos. A consciência de nossa finitude nos ancora ao presente, incitando a reflexão: qual o valor da existência?
Você está convidado, junto a figuras míticas e vozes múltiplas do poeta, a escutar e responder ao chamado. Se for para falar, que seja com coragem e presença.
Após a festa da vida, resta a contemplação, o arrependimento, o anseio. Nosso dia a dia se dissolve no tempo, entre lembranças e esquecimentos. Como um chiclete mastigado, vivenciamos o cotidiano, mantendo-nos aquecidos pela chama da vida.
Contra o clichê do fim absoluto, os poemas deste livro capturam o término como apenas um início renovado, sugerindo um futuro esculpido em palavras. Ser palavra, afinal, é nossa essência eterna.
Ederson Hising é poeta e jornalista. Nasceu em Mandaguari, no interior do Paraná, e viveu em Maringá e Curitiba antes de chegar a São Paulo. Como repórter e editor, passou por veículos como G1, Estadão, Rádio Itatiaia e afiliadas da Globo e Record no Paraná. vai ser como se eu tivesse morrido é seu primeiro livro.