Conheci a poesia da Clara Bordinião há tempos e da maneira que mais me impacta: performada pela poeta, num palco, em estado puro e profundo da poesia-corpotodo-voz-em-si. Agora então é alegria imensa sabê-la em livro, nesse Canto para Mnemosyne, em que a musa despertada em palavras sussurro e grito são paixões que brotam, que voltam, que vencem. Feito confidências duma redenção de chuvas e luas, feito a mãe que embala, feito alvoroço dos olhos e dos corpos, feito as janelas e as distâncias que não contém.
Aqui é no meio da praça, no petit-pavê vermelho, nos cinzas e na flor no coração que vibra: poesia de Clara. O que nunca se esquece, ao que se pensa ser realidade e gozo – mil teatros sem máscara e um leão iluminado. Despedidas e afagos e cavalos e sinais na pele e a estrofe-vida tão na rotina dos pássaros. Tão na rotina dos abraços esquecidos e em tudo que vinga, e refloresce.
Como os ipês e as águas. Prosa e poesia: palco de Clara, música de Clara. Voz em poesia de apelos e respostas e novas perguntas. Olhar transcendente em que vésperas transbordam. Vésperas atravessam o mundo e respiram e contam o que querem contar naquilo que não foge. Naquilo que é o canto intenso, o fluxo, o ritmo do rosto que se estreia: naquilo de ser tudo isso de Clara Bordinião.
Luci Collin
Outono 2021
ISBN: 978-65-89624-01-1
88 pág.
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Canto para Mnemosyne é uma confidência poética de paixões do corpo, da mente e da linguagem. À musa mãe de todas as musas, Clara Bordinião canta memórias e desejos íntimos e cotidianos, mas também coletivos e epifânicos. Sob as chuvas de Curitiba, seus poemas mesclam infâncias, maturidades e velhices de amantes, de mães, de Clarices, de Marielles, de Cecílias e de “tantas outras de nós, mulheres”.
Seu Canto resiste à rigidez máscula da classificação genérica e se apresenta como um poema que tem corpo e que se sabe performance. Subverte as convenções da forma e dos sentimentos colocando em cena “boemia, política e resistência”. É canto, carta e memória, mas também é burlesco e experimento de formas e de linguagens. No palco de suas páginas, se ouvem vozes plurais e necessárias.
Lido como uma coletânea de poemas independentes ou como um único corpo poético, Canto para Mnemosyne insinua-se, no contexto histórico-literário de sua publicação, como um épico possível das vicissitudes de mulheres que habitam uma realidade fragmentária e brutal na qual atuam, se encontram e se expressam em “metapoesia eterna” “e ali tudo se completa”.
Jaqueline Bohn Donada
Clara Bordinião
Natural de Curitiba, formada em Letras Português pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, teve seu primeiro contato com a escrita poética aos 14 anos com a leitura dos poemas de Cecília Meireles, que logo a encaminharam a consumir a poesia de outras e outros tantos poetas da literatura brasileira e estrangeira. Dentro do curso de Letras fez experiência de outras formas poéticas, sempre flertando com o teatro, a política e outras artes performáticas. Lésbica assumida, experimenta da sexualidade e da manifestação dos corpos em seus poemas, buscando aprofundar sua poesia nos prazeres e desejos do corpo feminino.
Hoje, aos 29 anos dedica-se a arte burlesca e transformista, buscando sua inspiração dentro das performances do Burlesco curitibano e no movimento Drag Queen e Drag King da capital paranaense.