“É um romance que opera transfigurações oníricas da realidade com surpreendente força, poderia se enquadrar em uma releitura do ‘realismo fantástico’ mas segue em direções mais machadianas e rosianas. Neste livro as imagens estão poeticamente entrelaçadas ao enredo e tudo do nome das personagens até seus discursos e diálogos possui um duplo sentido que futuras releituras certamente irão revelar. Concilia metáfora e humor de um modo equilibrado e insurgente”
— Isso não é jogo de criança, homem. Não demora e essa fábrica volta a funcionar, mas no perigo de ser dentro deles! Os meninos não carecem disso, eles precisam é de chão! De se esparramarem no quintal, se correrem e se sujarem!…
Manoel não importou-se com as turras da mulher, seguiu empolgado vendo os filhos treinarem suas ocupações, na tecitura do futuro.
– Isso é lindo, mulher, veja eles! Todos se cabem aqui, esse é o melhor lugar pra se brincarem de gente, pra se inventarem do que são. A Esperança é nosso quintal…
Temerinda calou-se, com o pensamento à prova de dúvida. Sensibilizou-se com o olhar do marido a transver escombros, com as crianças dialogando com o vazio, negociando com ninguém. Os filhos exerciam seus papéis com afinco, vontade que aos poucos foram emprestando aos olhos da mãe. Temerinda começou a caminhar pelos cômodos desocupados da velha fábrica, e inesperadamente foi surpreendida por funcionários carregando bandeja de café, pastas e amostras de panos. Ouviu o ruído de máquinas de escrever no fim do corredor, onde encontrou duas secretárias fazendo pedidos, preenchendo notas. Elas sorriram para Temerinda, bom dia, que não quis interromper o que faziam, e seguiu a perscrutar outros ambientes. O forte som das máquinas trabalhando no galpão, fez-se mais presente. Ela espiou pela janela e viu dezenas de pessoas agitadas em suas funções. Chegou à última grande sala, onde guardavam amostras da produção, e pôde conferir os tecidos mais delicados, ricamente desenhados. Emprestou um pedaço de pano, enlaçou-o no pescoço como um chale e foi até o marido. Manoel ficou surpreso com a mulher envolta em seu tecido preferido.
— Pra essa estampa, eu dei o nome de Utopia.
[…]
Outono 2021
ISBN: 978-65-89624-22-6
240 pág
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R$ 74,70 R$ 52,29
Alan Minas
Alan Minas é natural do Rio de Janeiro, escritor e cineasta, pós-graduado em roteiro e mestrando em Literatura pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Organizou o livro A Morte Inventada – Ensaios e Vozes. É autor do romance A família Dionti, desdobramento do filme homônimo. Publicou o livro infantojuvenil Quando Ju Escapou pra Dentro; e escreveu o livro infantil Gente que se Apaga. No cinema, roteirizou e dirigiu o longa-metragem documentário A Morte Inventada – Alienação Parental, que se tornou referência no tema no Brasil e no exterior. Roteirizou e dirigiu o longa-metragem A família Dionti, selecionado pelo Latin America Fund do Tribeca Film Institute – NY/USA, premiado nos festivais de Brasília (Melhor Longa Júri popular); Festin Lisboa (Melhor Longa Júri popular); YoungAbout, Bolonha (Melhor Roteiro); San Diego Festival de Cinema Infantil (Melhor Ator Criança); e na Mostra de Cinema de Gostoso (Melhor Longa). Está em fase de finalização do longa-metragem documentário Você não Sabia de Mim, com lançamento previsto para o ano de 2021.