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UM GRITO INFERNAL
Podresia não é um livro de poesia feito para leitores sensíveis a certas palavras, nem para acadêmicos frustrados dentro de suas alcovas de classe média A, nem para mauricinhos fumando narguilé em seus clubes customizados, nem para intelectuais hipócritas que festejam a diversidade nas redes sociais, mas olham com asco à realidade das ruas.
Podresia é um grito primal alucinado de alguém buscando a liberdade nos confins da sua mente através das próprias experiências, das experiências mais loucas e conturbadas às mais sutis e cotidianas, e em todas, a vida é caos e existência, um leve piscar de olhos esfacelados, o pulsar constante entre o sonho, o sexo, o amor e a morte. O poeta cai e levanta todos os dias, arrasta e empurra seu fardo morro acima e se lança no abismo das incertezas, quedando-se como um anjo torto no inferno de si mesmo e nos diz que nada mais resta senão viver o medo e a vida no seu limite. Como um antropófago da realidade, da inerente miséria humana, segue devorando a cidade com suas putas, viciados, cafetões, traficantes, pederastas, e todo o seu submundo caótico. É uma poesia feita para ‘escandalizar burgueses’, chutar a cara da hipocrisia com o coturno da rebeldia, no entanto, carregada de beleza, daquela beleza baudelairiana e do sentimento do mundo.
Todo esse vômito poético me lembrou de Allen Ginsberg, com seu “Uivo”, e toda aquela fúria, seu grito de contestação, sua epifania dessa realidade caótica. Outro nome que não poderia esquecer é o de Roberto Piva com seu “Paranoia”, que tem uma verve poética e uma temática visceral ainda mais parecidas com as de Gabriel Vadio.
Parafraseando a mesma frase William Carlo Williams usada no livro “Uivo”, diria:
“Senhoras e senhores, abaixem suas calças e se preparem para serem currados pela poesia!”
Claudecir Rocha,
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PODRESIA
tudo que fica de fora do poema de vocês
tudo que vocês tem vergonha
tudo que te dá náusea
o vexame, o seboso, o surto, a escória e a imundice
o telefonema carente do caminhoneiro pro disk chupe meu pau escrito no banheiro cheio de musgo fedendo a mijo no posto de gasolina mais triste da estrada
as lágrimas dos velhos demônios aposentados por invalidez depois de descobrir que poesia não cura enfisema
a alegria dos anjos que se jogam ao inferno doidos de Xanax e cocaína
o abuso no motel fuleiro sem estrela
a solidão da vida em putrefação na webcam
a gonorreia de cristo
a vontade de morrer depois da gozada na cara da rainha do baile
a poesia infeccionada cheia de pus
tudo que não combina com a fantasia higiênica do seu poema lindo
que sai do cu na privada do divino.
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Podresia
Gabriel Vadio
Formato: 15X21 cm
ISBN: 978-65-5361-074-3
R$ 39,70 R$ 27,79
Gabriel Vadio é vocalista e compositor de bandas punks, trabalhou como artista de rua e passou temporadas em clinicas de reabilitação, hospitais psiquiátricos, comunidades terapêuticas para dependentes químicos e no fundo do poço do submundo.
Este livro é uma parte do resultado de toda essa desgraça.