Muito da poesia ocidental enveredou pro lamento: o lamento amoroso, místico, político, etc. Nessas peças fundamentais, como em algo de Homero, Safo, San Juan de la Cruz, Brecht, ou Celan, impera certo código da melancolia, ou do desencanto diante da dor da vida, e a poesia vira o lugar de expor essa dor, torná-la tolerável. Felizmente há também — e necessária — uma outra linha, afirmadora da vida, que passa por momentos de Píndaro, Wordsworth, Nietzsche, Maiakóvski, etc., uma linha que, se celebra estarmos vivos, em nada repete a ingenuidade abestada do coro dos contentes. É disso, dessa celebração doída, que trata a poesia de Rodrigo Madeira: a vida afirmada em meio à dor, ou, como vemos nos versos dedicados ao dançarino Kazuo Ohno, “a dança do cadáver, do fantasma / em louvor à vida, antes que a dança da vida / acabe.” Porque a vida acaba sempre e, pior, pode acabar ainda entre os vivos, naquilo que Pessoa chamou de “cadáver adiado que procria”. A poesia de Madeira é então um desses lugares raros e finos pra se achar mais da vida, seja isso o que for, de que tanto precisamos.
Guilherme Gontijo Flores
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Rodrigo Madeira
Rodrigo Madeira nasceu em 1979 m Foz do Iguaçu. É autor de Sol Sem Pálpebras (Imprensa oficial, 2007) e Pássaro Ruim (Medusa, 2010). Vive em Curitiba desde 1992.