Estreito de Berlin, de Maurício Palma, sugere já em seu título a atmosfera de confinamento que conjura a poesia, aqui sempre em busca da claridade. Grafando com “n” o nome Berlin, o autor anuncia ainda a experiência do exílio e da angústia linguística por ela gerada. O uso da língua alemã, aliás, é recurso poético que convida o leitor a sentir o despaisamento que sofrem os imigrantes – os turcos são constantemente evocados –, mas também o poeta em sua peleja com uma gramática incapaz de dar conta de seu grito. A obra se inicia no subterrâneo, nas minas, ambiente de clausura, e se encerra ao ar livre, sob o céu de São Paulo. A luz é chamada ao longo de todo o livro, pela frase recorrente: “até pensei em sequestrar aquela luz que saía…”, inserida em meio a uma atmosfera urbana e sufocante, com sua vida noturna povoada de vícios, de amor, de morte. Estreito de Berlin é uma obra que desafia o leitor, que se reconhece em terra estrangeira, a peregrinar até a língua do outro para a apreensão de um sentido que tensiona uma agressividade, por vezes sem respiro, com momentos luminosos e sensoriais como este: “todo final de tarde / A luz-balão de teu céu o meio salar / de pedra calcárea de passados / que não posso te contar tateia”.
Lia Miranda
Verão 2019
ISBN: 978-65-80103-88-1
80 páginas.
R$ 39,70 R$ 27,79
Maurício Palma
Maurício cresceu em Altinópolis/SP. Escreveu seus poemas por onde perambulou: Ribeirão Preto, São Paulo, Franca, Brasília, Berlim, Bremen e New Haven. Diz ser influenciado por Pina, Pessoa, Lorca, Zambra e Tchekhov. Começou jornalismo e história, mas largou. Anda hoje por Ribeirão e Brasília, tem vida acadêmica na área do direito, discute política, vê futebol e é pai da Bia e do Lu.