O TREM REINICIADO, de José Maurício Burle, retrata a temática da máquina da vida, a vida que está sempre se reiniciando para realizar toda a sua potência e mistério. Se esgalhando pelo mundo das palavras em busca de sincronias e conexões, os engates do texto nos são oferecidos como num banquete. Acabamos engatados mesmo. Somos fisgados em tantas e tão incongruentes direções que nos sentimos perplexos e aturdidos.
Essa perplexidade nos faz perguntar: apesar do início do movimento de tantas engrenagens, do barulho e alarido da máquina e de seus vagões, será que o trem realmente deu a partida? Será que ele já passou? Em outras palavras, o que está sendo realmente dito aqui, por baixo dessa primeira leitura? É por essa brecha – uma rachadura no próprio tempo – que o texto do poeta pretende nos fazer passar para ver a outra natureza das coisas, uma natureza ao mesmo tempo mais real e mais duvidosa.
As árvores e suas folhas soltas que permearam seus dois livros anteriores continuam presentes. O tema continua o mesmo: a chuva e a terra, a vida e o homem. Mas aqui o convite para o arrebatamento como forma de pensar, ou de transcender os limites do ato de pensar, é mais explícito e visceral.
Capa: Paula Villa Nova
Outono 2021
ISBN: 978-65-89624-26-4
80 pág.
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R$ 39,70 R$ 27,79
O TREM REINICIADO traz de volta o melhor da poesia de José Maurício, na qual ele realmente consegue nos “entregar o mundo de volta”. Colocando um olhar firme e arguto sobre os fenômenos da natureza, ele desmascara nossos clichês, nossa visão comum, e nos deixa nus das supostas verdades que habitualmente cultivamos.
Há um toque épico nesse livro. Uma poesia de trajetória, de enfrentamento, de encontro com a hora em que o dia incendeia para nos livrar da dimensão miserável. Toda esquisitice, toda inadequação, toda fratura do mundo encontram aqui sua redenção.
Somos convidados a um olhar furtivo, quase clandestino, por trás da nossa cabeça, através do espelho enviesado do barbeiro, a fim de, desviando da censura dos nossos próprios olhos vigilantes, acessar as nossas profundezas. Pelo avesso ressuscitados, chegamos enfim a perguntar: o que nos resta?
Provocador, ele dispara: toda onda pede para ser surfada! O que é a vida, então, senão um excesso? José Maurício faz muito bom uso de seu tempo enrugado. Com a pose altaneira do buriti, que varre o céu enquanto vai pulando feito saci ao longo da vereda, ele costura as poesias desse livro como imagens que vão se sobrepondo até que o buriti apareça em todo lugar.
José Maurício Burle
José Maurício Lobo Burle é carioca, mas reside em Brasília desde 1977. Cursou Agronomia, Letras e Direito (sem concluir os dois últimos cursos), todos na UnB. Viveu um tempo entre as favelas nordestinas e os rincões da Amazônia, antes de se fixar em Brasília como consultor concursado da Câmara dos Deputados, especializando-se em Direito Agrário, Ambiental e Indígena.
Tem dois livros de poesia publicados em Brasília e várias poesias incluídas em antologias nacionais. Também fez edições avulsas de alguns contos. Sua vida e seus versos estão sempre ligados à temática da terra e da labuta do homem do campo. Praticante de meditação, coordena a ASSOL – Assentamento Solidário – ONG dedicada a apoiar os assentamentos de reforma agrária no entorno do DF.