Esses poemas são, acima de tudo, experiências. Alguns se apresentam como ensaios mesmo, experimenta, que partem de um pressuposto sentido pelo autor e atingem suas últimas conclusões percepto-afetivas. Outros se manifestam sob o modo da recordação, desvario e projeção. Todas essas vivências ou ‘luzes’, que o escritor oculta nas gavetas de sua mente, não procuram resolver ou simplificar nada; ao contrário, frequentemente retiramos mais perturbações e bloqueios do que saídas ou chaves. Contudo, sempre quando terminamos uma de suas poesias, constatamos que adquirimos um instrumento muito valioso e próspero: a franqueza no falar e pensar. Gartrell, de alguma maneira, ensina-nos a transitar e atravessar acontecimentos ou episódios desagradáveis e até traumáticos com transparência, coragem – atitudes que faltam muito na criatividade atual, a meu ver. O escritor não vai cair no banal, recorrente, fugindo de paradoxos para fazer literatura. Inversamente, ele constantemente vai utilizar a poética para desembaçar certos enigmas e torná-los mais mastigáveis. Como Gartrell mesmo diz em uma de suas composições, “A forma mais fácil de se conhecer é enlouquecendo. Ao abdicar da razão você descobre tudo aquilo que é sem a ilusão do sentido.” Qual melhor jeito de digerir a dificuldade do autoconhecimento sem apelar para a velha fórmula da reflexão através de princípios lógicos suficientes? Esqueça a explicação, o artista declara, para deixar então as emoções julgarem o mundo em sua ‘existência absurda’. – Vocês não obterão respostas nessa obra, mas, sim, um modo de saborear com prazer as dúvidas – de transformar problemas em arte.
Tarso Leggio
***
Em “Luz guardada em gavetas”, Gartrell faz uma investigação íntima em suas próprias memórias e reflexões, voltando dessa jornada com as poesias em versos curtos que compõe essa obra.
De forma honesta e sem floreiros desnecessários, ele entrega uma justaposição de sentimentos conflitantes, às vezes tortuosos, mas que permitem uma leitura bastante empática e que nos fazem contemplar nossas próprias falhas.
Os relatos aqui presentes oscilam entre concepções supreendentemente maduras de uma criança e pensamentos brutos, um tanto impulsivos de um adulto. Há sinceridade sobre compulsão por mentiras, amores inventados, paixões não-resolvidas, autoflagelo, filosofia de bar, lembranças com cheiro e cor.
João Cazzaniga
***
ISBN: 9786553610408
Verão de 2021
Total de páginas: 124
Formato: 15X21 cm
R$ 44,70 R$ 31,29
Sobre o autor
Michael Gartrell nasceu em Arapongas, PR, em 1988. Foi criado no Brasil e EUA até os quinze anos de idade, quando optou por morar permanentemente em Sorocaba. Graduou-se em Filosofia pela FFLCH-USP (2012), onde realizou seu Mestrado (2016), com o título, “Foucault e Mallarmé: o espessamento da linguagem”. Atualmente, faz Doutorado na mesma instituição, avançando seu projeto em filosofia da arte foucaultiana. Possui três livros publicados: “Seus Espirros Azuis” (2012), “Nada, Chuva” (2016) e “Minima Floralia” (2019).