Negrura – Edson Cruz

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Poesia personalíssima, leve e crispada, suave e tensa, com o sabor das coisas simples e ao mesmo tempo amargas. Poesia para desvelar o oculto e sugerir respostas a homens que indagam. Poesia que se quer unicamente terrena e essencialmente humana. A força telúrica contida em poemas como “Diáspora”, “Banzitude” e “Negror” faz lembrar do “horror de mortos empilhados em espaço exíguo” dos navios negreiros. Referências aos escritores negros Cruz e Souza, Oswaldo de Camargo e Lima Barreto valorizam a “Negrura” de Edson Cruz. Estamos diante da atualização mais bela e bem-sucedida, do ponto de vista existencial, estético e filosófico, da libertária “poética da indignação” inaugurada por Castro Alves.

[por Nicodemos Sena, romancista e editor (na quarta capa)]

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“Edson Cruz não sucumbe nem ao denuncismo óbvio, nem pisa distraído o terreno violento do racismo com as sandálias levianas do poeticamente correto. Sua singular negrura (como a de todos os não-brancos) se transfigura em proliferantes sentidos, porém jamais fugindo à materialidade mesma da linguagem.”

[por Ronald Augusto, poeta, músico e ensaísta (na orelha)]

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Negrura nos apresenta um conjunto de poemas bem apurados, reveladores de um cuidado excessivo com a equação forma X fundo. De um lado, a necessidade premente de exprimir a questão racial, mas de outro a preocupação em não reduzir a poesia a muro de lamentações. Os contornos da problemática racial brasileira, elementos que a configuram, têm ascendência sobre as pulsões da alma neste livro informado por Fanon, Cesaire and Cie.”

[por Anelito de Oliveira, doutor em Literatura Brasileira pela USP, Pós-Doutor em Teoria Literária pela Unicamp e publisher da revista Sphera (no posfácio)]

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Aperitivo:

CALUNDÚ

 

eu não falo inglês

língua de bárbaros

sem esperança.

nem esperanto

língua sem alma

impossível ao canto.

me vingo toda noite

sonhando

em língua ancestral

banto.

 

 

LUSOFONIA

 

ainda há muitos corpos

insepultos

muitas vozes com gargantas

decepadas

tantas marcas tatuadas

ainda em brasa

quantas frátrias fraturadas

em nome da pátria

tantas línguas encobertas

tantos ataques e sotaques

e sempre a mesma dicção

de aporia

a camuflar

soterrar

degenerar

com seu perfume de flor vulgar

a última do Lácio

a nos embriagar

à afasia

com seus acentos

seus desacordos ortográficos

e sua oceânica pretensão

de lusofonia.

 

 

TERRA BRASILIS

 

ao nativo do Brasil

o não indígena é branco.

mesmo que seja preto.

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Negrura – Edson Cruz

15×21 cm

96 páginas

ISBN 9786553611382

R$ 39,70 R$ 27,79

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Edson Cruz (Ilhéus, BA) é poeta, editor do site Musa Rara (www.musarara.com.br) e coordenador de Oficinas Literárias. Estudou música, psicologia e letras (USP). Seu livro de poemas, Ilhéu (Editora Patuá, 2013) foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom de 2014. Antes, lançou Sortilégio (poesia), em 2007, pelo selo Demônio Negro; como organizador, Musa Fugidia [a poesia para os poetas] pela Moinhos Editora; em 2010, uma adaptação do épico indiano, Mahâbhârata, pela Paulinas Editora. Em 2011, ganhou a Bolsa de Criação da Petrobras Cultural e editou o livro Sambaqui, pela Crisálida Editora. Lançou em 2016 sua antologia poética, O canto verde das maritacas, Editora Patuá. Em 2019, lançou Trabucada, Terracota Editora, infanto-juvenil para todas as idades. Em 2020, lançou Pandemônio, Kotter Editorial.

E-mail: sonartes@gmail.com