As fissuras e “as taras do autor notório larápio de filetes […] de linguagem”, reunidas em Poemas baseados, formam uma figura singular de antiestocástica, apropriada aos interesses do poema-sobre-o-poema ideado por Ricardo Pedrosa Alves. Curvado sobre um conjunto restrito de criações e textos alheios, o poeta, cujo escrever se constitui a contrapelo de imaginar, se aventura a interpretá-los a partir de uma acepção musical, ou seja, aqueles poemas servem de partituras cujos signos verbais e não-verbais passam a ser redefinidos plasticamente pelo poeta expropriador.
O objetivo não é o de uma simples decifração ou otimização desanuviadora dos significados relativos aos poemas de partida. O objetivo é forjar um poema-rival, exsurgido através das entranhas e das frinchas de cada poema que lhe serviu de base, de plataforma de lançamento. Por isso trata-se de uma antiestocástica, porque não estamos nas redondezas da paráfrase ou, por analogia, da tradução infensa à traição. Porque Ricardo Pedrosa Alves não tem nenhuma comiseração com a angústia pelo sentido, que afeta tanto o leitor daqueles poemas que provocaram a ideação crítico-criativa do poeta, quanto o leitor que agora precisa se haver com as peças perturbadoras, elas mesmas, de Poemas baseados […]
Ricardo Pedrosa Alves
Ricardo Pedrosa Alves (1970), é autor dos livros Desencantos Mínimos (Iluminuras, 1996) e de Barato (Medusa, 2011). É doutor em Letras e professor universitário.
Avaliações
Não há avaliações ainda.