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Um divórcio traumático, um amor impossível, um menino perdido: esses os gatilhos que compelem o protagonista deste romance a mergulhar de maneira visceral na questão indígena brasileira, ao atender um comando materno peremptório e assumir um cargo no órgão estatal incumbido de gerir os assuntos dos povos tribais.
Mau negócio para ele, que na ânsia de fugir de suas dores pessoais, acaba se deparando com um universo onde a dor do esbulho e da iniquidade é ainda mais onipresente do que a sua.
Mas se há dor, deve haver anestesia. A que ele encontra é atirar-se do modo mais decidido na obtenção hedonista de prazeres dissolutos e na defesa suicida e intransigente dos direitos dos índios a quem aprende a amar.
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Jumentos na pista
Autor : Ricardo Rao
ISBN: em breve
Total de páginas: em breve
Formato: 16X23 cm
R$ 179,70
Disponível por encomenda
O pesadelo do governo Bolsonaro, índios assaltantes, índios assaltados, o crime organizado madeireiro e o estupro da Amazônia Oriental, vinho de maconha, gângsteres de farda e muita putaria: jamais a questão indígena foi tratada da mesma forma que a apresentada neste Jumentos na BR.
Pari passu com o derretimento inexorável das instituições do Estado brasileiro, o mergulho na dissolução mais depravadamente orgiástica por parte de um indigenista da FUNAI, amargurado por um amor impossível e pela perda do filho favorito, acaba traçando uma trajetória paralela do micro de sua vida privada com o macro dos brutais eventos históricos desencadeados a partir do golpe de Estado contra Dilma Roussef em 2016.
Para o protagonista, em sua busca constante por anestesia para a dor de existir, todas as parafilias são válidas e nenhum golpe é baixo demais se ajudar a alcançar seu objetivo de fazer valer os direitos dos índios sob sua jurisdição – sim, estamos tratando aqui com um cínico hedonista, mas também com um agente público inteiramente dedicado ao seu dever legal de promover e proteger os direitos dos povos tribais, e se para isso ele precisar usar revólveres, suborno, mentiras, ameaças apavorantes ou adulação rasteira, ele o fará.
No desfile multitudinário das personagens que habitam Jumentos na BR, e comprovando que o discurso do empoderamento feminino de há muito deixou de ser apenas discurso, emerge com imponência a figura de Nadir, mãe do protoganista, uma enfermeira aposentada da FUNAI de quem ele claramente herdou o amor aos índios e a disposição para a briga: é ela quem invade a quitinete onde o filho agoniza após o divórcio traumático, chutando-lhe o traseiro e atirando-lhe as apostilas para estudar e ser aprovado, sob pena de praga materna, no concurso para o órgão indigenista da República; é ela quem o visita periodicamente em todas suas lotações (Mato Grosso do Sul, Pará, Maranhão), para inteirar-se dos meandros da política nas aldeias e na repartição, providenciando-lhe informações preciosas para sua sobrevivência funcional; é ela, por fim, que o obriga a engolir as lágrimas com uma piada derradeira no aeroporto, ao enviá-lo para o exílio junto às tribos sámis norueguesas, salvando-o uma vez mais, agora do acosso da ABIN paralela e dos milicianos da Polícia Militar.
Em Jumentos na BR, os xikrins do Kateté se encontram com Rubem Fonseca, os kaiowás do Mato Grosso do Sul se embebedam com Charles Bukowski, Marquês de Sade pede licença ao cacique e entra no mato de mãos dadas com duas funkeiras que ele trouxe da cidade. Quem quiser saber o que acontece depois, que leia este livro.
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Ricardo Rao: um nome rascante, um travo que arranha a garganta, literatura maldita, voz do caos, pedrada.
Marina Colasanti
… cometi o equívoco de criticar a literatura que se faz na actualidade, qualificando-a com o anglicismo “light”. Mea culpa, mea maxima culpa: a vossa é bastante pesada, no bom sentido do termo.
José Saramago
Gostei muito do que li. Confirma plenamente seu talento.
Moacyr Scliar
…linguagem singular, envolvente, densa e elaborada; narrativa firme, segura e convincente.
Paulo Scott
Caralho. Demais.
Jotabê Medeiros
Um homem de extrema coragem.
Cristina Serra
Esse cara agora está em risco, por ter falado tudo o que falou.
Eduardo Moreira
Um herói brasileiro.
Táki Cordás
O escritor inédito mais premiado que já conheci.
Sálvio Kotter