Pedro Tomé, em Ribanceira: diálogos com Pessoa e outros papos, convida o leitor a mergulhar na complexa intersecção de linguagem, cultura e identidade. A obra revela como a circularidade e a invenção linguística moldam nossa percepção do mundo e de nós mesmos, transformando cada leitor em um participante ativo dessa Babel libertadora.

Trecho

Em mim, um século, talvez o Vinte,
Forjou uns trilhos trôpegos de trem
Que me percorrem dentro e me detêm
Em cada instante diante do seguinte.  

(…) 

Texto de orelha

(…) Em Hesíodo, os deuses instauram o mundo e os homens, que instauram o canto, que instaura… os deuses. Nos salmos, Deus habita no canto do povo que criou. A circularidade, expressa no genial conceito de Conceição Evaristo, escrevivência, se expressa aqui em fragmentos refletidos, que paradoxalmente resultam numa síntese não enunciada. Todas as vozes são legítimas porque nenhuma é, e vice-versa.  

Se, como diz Roy Wagner, “invenção é cultura”, já que as pessoas se expressam em infinitos modos de diferenciação em relação a um fundo simbólico e, ao se diferenciarem, inventam o próprio arcabouço simbólico, o mesmo vale para a linguagem. Nisso estamos juntos com Meschonnic, para quem o indivíduo era a diferenciação do sistema linguístico; por isso o ritmo de cada um é estritamente pessoal, mas ao mesmo tempo inventor do idioma como um todo. E nisso a poesia está na beira do precipício, sendo o modo de diferenciação, portanto de invenção, por excelência. Mas essa diferenciação só se dá na realidade viva da língua (e seu falante) como um todo, e nela mergulha. Se, para Wagner, todos os seres humanos devem ser vistos como antropólogos fazendo estudo de campo, então todos os falantes devem ser vistos como poetas. Essa é a transcendência possível em Pessoa e suas vozes sobressalentes trazidas por Pedro Tomé. É como se ambos estivessem na construção de uma Babel libertadora, que, enfim, cumpriu sua função, onde a profusão não é punição, mas antes, tivesse trazido ao solo o eco do que buscavam encontrar no alto.

Ribanceira, de Pedro Tomé
(Previsão: segunda quinzena de agosto)
112 págs.
Formato: 16×23
ISBN: 978-65-5361-335-5

R$ 49,70 R$ 34,79

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Pedro Tomé nasceu em São Paulo, em 1987. Tem como paixões a poesia e música, temas que estudou em seu doutorado. Em 2020, lançou o disco “Alma Sonora”, disponível em todas as plataformas de streaming. Em seguida, passou a conceber os poemas que integrariam a coleção poética A Terra Me Planeta (2022), seu livro de estreia. Ainda no final de 2021, enquanto a obra estava em processo de editoração, já trabalhava neste Ribanceira. É pai de João e Antônio.