Luca Barbabianca demonstra um domínio invejável ao utilizar a forma fixa. Seus decassílabos são rigorosos, porém em momento algum enfadonhos. Muitos poemas nos remetem a Pessoa, Drummond, Murilo Mendes e claro, Glauco Mattoso, mestre do soneto. Sonetos de Augusto dos Anjos, Vinícius de Morais e Paulo Bomfim (a quem, inclusive, Barbabianca rende homenagem), me parecem fonte de leitura e de consulta para a artesania de sua poética. A escolha das formas fixas (sonetos e indrisos), por sua característica formal um tanto hermética, valoriza a melopeia.
Destacaria seus sonetos Arrepio, com um falso flerte com a lírica amorosa; Avatar, no qual predomina uma preocupação existencial; Soneto da aporia (um dos melhores desta coletânea), traz questionamentos sobre as incongruências do indivíduo contemporâneo; Sonho libertário, o qual flerta com a vertente social, porém sem ser panfletário; Soneto herético (me lembrou um pouco Drummond, um pouco José Chagas), é uma espécie de provocação nada velada à instituição religiosa; O último riso da vileza, em que sua verve irônica atinge em cheio quem o ler (até o leitor um tanto desatento).
Se o leitor e a leitora nunca ouviram falar em indrisos, não percam tempo! O volume que têm em mãos é uma pérola. Deleitem-se!
Daniel Osiecki, editor
Outono 2020
ISBN: 978-65-80103-98-0
211 pág.
R$ 74,70 R$ 52,29
Luca Barbabianca
O autor Luiz Carlos Cicala escreve sob o pseudônimo literário de Luca Barbabianca. Paulistano do bairro do Cambuci, nasceu no início de 1946 assim que foi firmada a paz ao fim da Segunda Grande Guerra. O autor veio ao mundo completamente analfabeto, mas não era exceção. Por essa época mais da metade da população brasileira não sabia ler nem escrever.