Esta recolha de poemas de Luis Alberto Crespo, um dos principais poetas venezuelanos vivos, mas infelizmente ainda pouquíssimo conhecido por aqui, instaura, como toda tradução, um novo mundo dentro de nossas possibilidades do fazer poético. A seleção, que leva em conta os mais de trinta anos de produção poética de Crespo, busca evidenciar algumas linhas de força de sua poética, como é o caso da imagem constante da figura do cavalo, central no livro Señores de la distancia, 1988.
Além disso, é possível observar ao longo das páginas como sua figura poética tende, com o passar dos anos, a um esfacelamento que evoca as poéticas de Paul Celan, Giuseppe Ungaretti e, até mesmo, algo de Orides Fontela. Isto vale dizer que o processo de fragmentação que opera a linguagem parece escavar as palavras até chegar ao cerne daquilo que poderia ser nomeado como um reencantamento-reecontro trágico com o mundo: a experiência, sempre fragmentada, geralmente em tom campestre e relacionada à existência material da terra, revela-se como formulação de beleza em meio às agruras da existência e mesmo do amor.
Se Ungaretti diria que se “ilumina de imenso” para suportar o viver, Crespo une-se à imagem ambígua do cavalo e afirma que “o real não me devasta”, numa espécie de uso xamânico da linguagem, construindo na própria poesia seu abrigo e sua morada.
Esta cuidadosa seleção e tradução poética feita por Guilherme Gontijo Flores, portanto, apresenta-se como peça fundamental não só para a poesia de Crespo no Brasil ou para o nosso cenário poético atual, mas para nosso tempo mesmo. Que estas centelhas de belezas possam nos iluminar nestes dias.
Livro: Luiz Alberto Crespo
Tradução: Guilherme Gontijo Flores
Inverno 2019
ISBN: 978-65-80103-42-3
92 pág.
R$ 39,70 R$ 27,79