Um convite
Tenho um convite a fazer: vamos todos para a casa do caralho ao lado desse senhor bom poeta? Sim, vamos todos ao lado de Alexandre Guarnieri, um dos nomes da poesia contemporânea brasileira, para longe daqui: do trivial, do lugar comum, do rasteiro e do chão? Voemos. Sigamos juntos pelos poemas desta antologia, segurando a mão da poesia, do requinte, da sofisticação e voz demolidoras de seus poemas. É necessário que saibas, leitor, que, avançando as páginas desta “Arsênico & Querosene”, nunca mais serás o mesmo e que a tua ideia de poesia, essa pobre ideia que trazes sobre o que é a poesia, perder-se-á irremediavelmente. E isso é muito bom, acredite! A poesia de AG tem a força e a dinâmica daquelas coisas que, em seu frescor, mexem com estruturas estabilizadas e, desestabilizando-as, criam um novo caminho, uma nova fome, nova sede, novo deslumbramento. Não é a arte esse caminho? Os poemas de Alexandre Guarnieri trazem oxigênio à poesia brasileira e são um mergulho sem concessões na medula das coisas: da máquina ao corpo, do fogo à água, do ar ao vácuo, indo da mais sofisticada referência à mais rasteira citação pop. A poesia de Guarnieri, absolutamente contaminada pelo real, escancara qualquer pretensão abusiva de erudição, desmistificando os senhores maus poetas pela simples presença de versos iconoclastas, incisivos, de doces asperezas. Confortavelmente instalado na linha demolidora dos poetas que fazem das vísceras seus versos, Alexandre ingressa na literatura, como queria Torquato Neto, desafiando/desafinando o coro dos contentes e propondo uma nova harmonia, um novo canto, um novo samba pós-tudo, bossa-nova neo-apocalíptica mastigando engrenagens da máquina, do corpo, do coração envenenado das cidades.
Rio, 24.10.19
Leonardo Almeida Filho
Verão 219/2020
ISBN: 978-65-80103-79-9
280 pág.
R$ 84,70 R$ 59,29
Alexandre Guarnieri
Alexandre Guarnieri, carioca da Zona Norte, nasceu em 1974. É poeta, historiador da arte (pela UERJ) e mestre em Comunicação e Cultura (pela UFRJ). Integra, desde 2012, o corpo editorial da revista eletrônica Mallarmargens. Ganhou em 2015, com seu segundo livro (“Corpo de Festim”), o 57o Prêmio Jabuti, na categoria Poesia. Em 2016, contribuiu na organização da antologia “Escriptonita – pop/oesia, mitologia-remix & super-heróis de gibi” (Editora Patuá). Foi publicado ainda em jornais, revistas e antologias. Estreou com “Casa das Máquinas” (Editora da Palavra, 2011), seguido por “Corpo de Festim” (Confraria do Vento, 2014), “Gravidade Zero” (Penalux, 2016) e “O sal do Levitã” (Penalux, 2018), sendo este último semifinalista no Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa (2019). O presente volume, “Arsênico & Querosene”, reúne poemas de seus quatro livros até então, bem como trabalhos inéditos.