A CATIRA DOS SANTOS
O santo torto tinha na cabeça
Outra cabeça, queria não ser
Santo, queria talvez não ser
O santo torto tinha no coração
Outro coração, queria não ser
Santo, queria talvez não ser
Mas como não ser, o santo!
O santo torto vivia de ser
Não sendo ele o santo
O santo torto feito um pau brasil na hora do ângelus.
A poesia de Djami Sezostre me puxou pelo ouvido. Paul Zumthor, em sua Introdução à Poesia Oral, diz que “toda poesia aspira a se fazer voz; a se fazer um dia ouvir”, seu destino, portanto, é a fala e toda fala é performance. A poesia de Djami se diz, se instaura na voz, se vinculando primeiramente ao corpo, aos sentidos, parecendo recuperar uma fala ancestral, música e mantra que se manifestam como presença, sentimento de pertencer. A trama poética escava outros sentidos que não aqueles superficiais que agregam a arte a um intelecto desprovido de corporeidade, fixado, rigidamente, na escrita. Entretanto, traduzida para o papel, essa poesia torna-se ainda mais exigente, desafiando o leitor para que este descubra sua língua (ou línguas), produza novos sentidos, para que adentre, sem medo, nessa selva-çeiva,
que a rearticule em seu caráter movediço, de entrelugar de fronteiras.
Micheliny Verunschk
O texto poético de Djami Sezostre, sensorialmente, sugere um lago de piche. De fundo preto, letras vazadas, palavras grudadas umas nas outras, o poema é um moto-contínuo textual que vai gerando neologismos inesperados, às vezes, indecifráveis. O leitor, na travessia textual, depois de chegar próximo da metade, sem pausa para respiração, descobre que não há bomba de oxigênio. O leitor, então, depara-se com seu grito inaugural, com sua biopoesia, passando a respirar da experiência de linguagem do autor.
Ricardo Corona
Outono 2019
ISBN: 978-65-80103-19-5
220 pág.
R$ 74,70 R$ 52,29
Djami Sezostre
O fauno Djami Sezostre é natural da fazenda Onze Mil Virgens, em Rio Paranaíba, no Triângulo, 17 de abril de 1971, filho dos ágrafos Ovídia Ribeiro e Antônio Sezostre. Poeta e performer, Djami Sezostre inventou a Poesia Biossonora e a Ecoperformance, com espetáculos apresentados na América, Europa e África. Extemporâneo, publicado no Brasil e exterior, com traduções ao inglês, espanhol, francês, alemão, finlandês, húngaro etc. Autor, por exemplo, de Çeiva, protopoesia, Anu, nãotexto de biopoesia, Cachaprego, a fala da natureza, Z a zero, ultrasonetos dos sentidos, Zut, nãolíngua original e artificial, O pênis do Espírito Santo, salmos do sol, Rudárido, o deus verde. Ensaísta de ruptura com Portuguesia: Minas entre os povos da mesma língua, antropologia de uma poética, contraantologia com 101 autores de línguas portuguesas. Apresentador do programa de radioarte Tropofonia, na rádio educativa 104,5 da UFMG. Editor da Anome Livros, editora que publica sonhos. Vive na Pauliceia Desvairada, depois de habitar o paraíso do Curral Del Rey, onde fez nos jardins internos do Palácio das Artes o projeto Terças Poéticas. Agrolírico, Djami Sezostre explora em Cão Raiva a poesia em estado de sexo, para tresler os sentidos.