Nem sei ao certo quando Josep Domènech Ponsatí apontou no meu universo, na linha do meu horizonte me traduzindo com esmero. Parecia que aquilo era uma entranha do meu poema, ou melhor: uma variação. Agora, a luz puxada das gambiarras é toda dele e eu o vejo em brasileiro mestiço e puro aos saltos, com a força de quem se tatua, sendo a tatuagem uma ilustração do pensamento e da perícia de que é capaz. Seu poema é feito de uma “sobra de sentido”, como aliás, matutando bem, toda a boa poesia é feita assim, se desenvolvendo depois, além, pelos leitores espertos. Quanto à “Baldeações”, o poema é duro, impertinente, necessário. É de roldão. É um manifesto, ou melhor, “foi escrito berrando” em alto e bom som, ou mesmo no som que arranha. Incrível o seu domínio do português, de um palavreado inusitado e surpreendente com palavras de pouco uso. Me lembrou de Guimarães Rosa, tem o clima de Lavoura arcaica de Raduan Nassar. O livro, feito de uma “linguagem elaborada” com a precisão de asa, de um vôo, pede releituras, pois tem de tudo um pouco: do riso à cicatriz! Esse prólogo, portanto, possui uma lógica que faz “mossa” em quem o leu – e relerá.
Armando Freitas Filho
Fora de catálogo
Formato 16X23
129 páginas.
2020