Reinoldo Atem avançou no entendimento da poiesis recuando ao princípio de todas as abstrações: o Alumbramento, A estranheza de sentido, A nomeação das coisas. Porque, nos parece, poética é um gênio, um feitiço, uma capacidade de intuir os símiles, de estranhar as conexões, marcar algumas diferenças, algemando sentimentos e dúvida fundas. Fazemos a perquirição a respeito do sentido do que é, da conformação desse sentido, do que nos envolve, e então tudo se atropela, anunciando-se em versos ou em sentenças novos significados para repor o mundo sob nossa perplexidade. Pode até que isso diga alguma coisa do poeta Reinoldo, mas nada seria tão incaracterístico, numa generalidade que alcança a maioria dos poetas. Todavia, como disse Severino, o personagem poético de J. C. de Mello Neto, desfiliado pelos críticos rigorosos em sua cátedra, isso diz pouco da poesia que “em vossa presença emigra”. Dentro da multiplicidade, nos muitos eus do poeta Reinoldo, destaca-se o indagar-se das coisas, como desde os primeiros vates; e logo acrescenta seus dizer das coisas e sentimentos, como se alcançasse um interlocutor capaz de apreender sua expectativa. T. S. Elliot falou em três vozes da poesia: A 1° voz é a do poeta falando para si mesmo; a 2° voz é a do poeta dirigindo-se a um auditório; e a 3° voz é a do poeta quando diz não o que diria falando por si mesmo, mas apenas o que pode dizer dentro dos limites do personagem imaginado. O poeta aceitaria esse enquadramento? Socorramo-nos então de vôos: a armação do pulo infantil; na pré-articulação da fala onde estava o seu sentido. Eis que no antecípio de toda prosa estava a poesia, e a voz é uma ressonância perdida de mistério. No fragmento do seu tratado poético, mais especificamente no “Livro das Ignorãças”, o poeta Manoel de Barros diz que “Poesia é quando a tarde está competente para dálias”. “É quando ao lado de um pardal o dia dorme antes”. Sestra: “Poesia é voar fora da asa”. E arremata: “No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo”. Quem viver verá! Melhor, quem ler poderá conformar a sua sensibilidade e formar a sua ideia; quem sabe, sem juízo.
Walmor Marcellino
ISBN: 978-65-80103-97-3
Verão 2020
460 pág.
R$ 134,70 R$ 94,29
Reinoldo Atem
Reinoldo, poeta e publicitário aposentado, nasceu no Piauí, radicado em Curitiba, participou e publicou: 4 Poetas – Coletânea (Editora Cooperativa de Escritores, Curitiba 1976), Tempos – Coletânea de poemas (Editora Pindaíba, São Paulo 1978), O Conto da Propaganda – coletânea de contos (Editora Vertente, São Paulo 1979), Assim Escrevem os Paranaenses – Coletânea de contos (Editora Alfa-Ômega, São Paulo 1977), Sala 17 – coletânea poemas – Movimento Sala 17, Curitiba 1978. 1971 – novela (Editora Beija-Flor, Curitiba 1978).
Foi um dos fundadores e editores da revista de jornalismo cultural e literatura Outras Palavras (1978) e da Revista de criação Zéblue (1980)