Não é todo dia que nos deparamos com um escritor iniciante que oferece uma contribuição realmente significativa para a literatura brasileira. Terras Nacionais e Terras Estrangeiras apresenta algo de inédito na contística nacional ao desenvolver o que poderíamos chamar de um surrealismo do povo, pois aqui articulam-se o mundo material dos trabalhadores, metáforas advindas de universos semânticos os mais distantes, e ocasionais vislumbres teológico-apocalípticos. Essa mistura produz uma obra na qual a fidelidade realista, o lirismo imaginativo e um impulso de redenção iluminam-se mutuamente, gerando inesperados momentos de conjunção, assim como casos de choque. Mas não é só isso: em uma sociedade cuja imaginação narrativa é marcada por enredos mirabolantes, este livro compõe-se de quadros, nos quais a descrição tem primazia sobre a ação; em uma realidade cada vez mais narcisisticamente focada no indivíduo, este texto deliberadamente evita o “eu”, lançando-se ao invés a uma concretude delirante das coisas e do “nós”. Para quem se sente sufocado pela repetição sem fim da indústria da cultura, que inclui boa parte da literatura brasileira contemporânea, Terras Nacionais e Terras Estrangeiras é uma brisa alentadora.
Fabio Akcelrud Durão
Professor Livre-Docente do Departamento de Teoria Literária da Unicamp
Verão 2021
ISBN: 978-65-89624-13-4
120 páginas
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R$ 44,70 R$ 31,29
As paisagens contadas em Terras Nacionais e Terras Estrangeiras estão mais perto do céu que do presidente, ambos refém de um deserto. A capacidade de resposta (responsividade) de um compensa as falhas do outro, pois o pior, por estas palavras, seria um mundo entregue a si mesmo, ainda que por uma hora – não valeria o esforço de escrever, tampouco de falar da felicidade de fazê-lo. Descrições, detalhes, encontros, retratos, alianças e fraquezas povoam estas narrações, amealhadas na síntese impossível do materialismo histérico e da encarnação que se precipita. Daí a parataxe – forma sintática da renúncia ao domínio – dos elementos: peixes, anjos, lixo, fogos, pássaros, mendigos, águas, queixos, pomos-de-adão, vassouras e Nossa Senhora alinhados no mesmo nível, todos puxados pela mesma incrível força vertical que desfaz a exclusividade das pessoas e das coisas.
Henning Paul Heinrich Teschke
Docente de Teoria Literária na Universidade de Dortmund na Alemanha
TIAGO BASÍLIO DONOSO
Nasceu em São Paulo, em 1981. Movido pelo propósito literário cursou Letras na Universidade Estadual de Londrina, onde estudou a crônica brasileira e Nelson Rodrigues. Concluiu seu mestrado em Teoria Literária pela Unicamp, tendo como objeto de pesquisa a primeira obra de Franz Kafka. É vencedor de alguns concursos literários, entre eles o Concurso da Tv 247 “Contos da Quarentena”. Também foi escolhido para integrar a coletânea dos “21 melhores futuros prosadores do Brasil”, da Revista Arraia. Terras Nacionais e Terras Estrangeiras é seu primeiro livro publicado. Atualmente, é professor da rede privada e reside em Jardinópolis, São Paulo.