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por Daniel Osiecki

A primeira vez que ouvi falar em Paulo Leminski foi através da música. Lembro que em uma grande rede de supermercados aqui de Curitiba (que não vale mencionar, afinal não estou recebendo cachê deles!) na época em que ainda se vendiam cd’s nesses lugares, me deparei com um disco do Blindagem. Todo roqueiro curitibano que se preze conhece o Blindagem, banda icônica em atividade desde os 70. Naturalmente que o dinheiro era curto, portanto não podia comprar mais de um cd. Levei o Blindagem pra casa e ouvi à exaustão. Já conhecia algumas pérolas clássicas como Oração de um suicida, Não posso ver e Marinheiro, mas ouvindo o disco tive um primeiro contato com as músicas menos conhecidas (Palavras e Hoje, por exemplo), e curioso, olhando nos créditos das composições, das 10 faixas, 7 têm a assinatura de Leminski.

A partir da música, que era o que mais me interessava nos idos anos 90, adentrei o tortuoso e desafiador mundo da literatura. Até diria que fui fazer Letras anos mais tarde por causa desse primeiro contato. Ali, aquele jovem imaturo e que tinha nele “todos os sonhos do mundo”, foi infectado pelo vírus das possibilidades de criação da linguagem e segue infectado até hoje. Possivelmente graças ao polaco.

Leminski andou por essas mesmas ruas que ando hoje, até por alguns mesmos bares. Inclusive alguns amigos meus conviveram com o poeta-judoca-iconoclasta-pop-erudito, e é unânime: Leminski era uma figura como geralmente são os seres geniais, ou seja, desafiador, provocativo, ácido e paradoxal.

Anos depois de meu primeiro contato com a obra leminskiana, potency of boldenone cypionate/ mais precisamente no dia 24 de agosto de 2004, em uma noite fria em Curitiba, a Travessa dos Editores, editora do finado Fábio Campana, promoveu o lançamento da nova edição de Catatau no Teatro Paiol. Na efeméride estiveram presentes artistas locais, poetas da cena, músicos, intelectuais e pesquisadores da obra do poeta. Lembro muito bem dos shows de Carlos Careqa, Maxixe Machine e das leituras de vários poetas que celebravam a obra leminskiana.

Meus grandes amigos Alexandre Kramer (poeta, professor e músico) e Thiago Avelino (professor e músico) estavam juntos nessa noite e podem confirmar o astral daquela noite de muita poesia, música e vinho. Kramer até bateu nas costas de um político conhecido na época para que ele pudesse passar: “Dá licença aí, bróder!”. O político, que havia sido prefeito em Curitiba, abriu espaço e deixou o jovem poeta transitar livremente pelo Teatro Paiol.

Jovem aspirante a poeta que era (escrevia loucamente e em profusão naquele tempo, mas pouca coisa se salvou, naturalmente) aquele evento foi um divisor de águas em minha vida. Se havia alguma dúvida, mínima que fosse, em seguir uma trajetória artística na literatura, despareceu naquele momento, e cá estou.

Minha namorada na época, Diana (que hoje é minha companheira, leitora e revisora), pediu um pôster do evento que eu, como um bom curitibano de poucas palavras faladas, não tive coragem de pedir. Temos o pôster emoldurado até hoje, com a data 24 de agosto estampada daqui para a posteridade. Curiosamente também foi nesse dia que Diana e eu oficializamos, finalmente, depois de muitas idas e vindas, nosso relacionamento. Alvissareiro e auspicioso começar um relacionamento em um sarau que comemora a vida e obra do maior poeta brasileiro de seu tempo.

Viva o polaco, o cachorrolouco, a besta dos pinheirais, o ex-estranho, o que chegou sem ser notado.

2 respostas

  1. Muito bom ler sua vivência com a Literatura!

    Eu tive pouco contato com a obra leminskiana, confesso, e é interessante pensar que, diferente da sua, a minha relação com ela começou de um modo muito mais individual, “sem aglomerações”, com o “Toda Poesia”, da Companhia das Letras, que meu pai comprou logo ao ser lançada. Depois disso, li principalmente a partir do maior contato com mais poetas paranaenses, por exemplo os da Kotter e da escamandro. Acho que é uma obra muito renegada para além do Paraná, infelizmente.

    Abração, Daniel!

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