O fascismo chegou na Copa América

O fascismo chegou ao futebol, mais especificamente na Copa América. Além do absurdo de concordar trazer a Copa América para o Brasil, que está sofrendo com a pandemia, o presidente toma para si como uma ofensa pessoal quando os jogadores ameaçam não participar dos jogos.

Bolsonaro pensa como o Rei da França, “O Estado sou eu”, e não consegue entender que ele foi eleito para um período de quatro anos, na Presidência de uma República, um cargo litúrgico e cheio de protocolos e delimitações. Para o presidente, ele foi eleito Imperador do Brasil.

Para justificar isso, o fascismo tem uma característica fundamental: é simplista e reducionista. Por exemplo, se Tite não quer participar ou não quer convencer a seleção a jogar a Copa América, Flávio Bolsonaro apenas precisa afirmar que o técnico é “comunista” para que o gado bolsonazista passe a repetir “é comunista, é comunista!”.

Reduz-se o problema, não há discussão e não há aprofundamento. Não se discute o porquê de Tite adotar esta ou aquela posição. A seleção é comunista e pronto.

Para resolver este contratempo, Bolsonaro vai convocar um técnico e jogadores bolsonaristas. Da mesma forma, na Alemanha nazista existiam jogadores e atletas nazistas, diretores de cinema nazistas, atrizes e atores nazistas, e assim por diante. Todo mundo quer uma boquinha, todos precisam sobreviver. Entre estes, alguns se encantam com as promessas dos ditadores os nazi-fascistas. Deste modo, se for necessário, o presidente formará uma seleção apenas com seus seguidores.

Além disso, os nossos jogadores da seleção devem estar sofrendo com uma enorme pressão para que joguem a Copa América. Ameaças, coações e coerções devem estar acontecendo aos montes, bem como a própria pressão familiar que vê na figura do presidente uma autoridade a ser respeitada.

O simplismo do fascismo facilita tudo. Quem não concorda com as políticas desse governo é adversário, inimigo e comunista. Desta forma, todo mundo é comunista, até o Tite e o Rodrigo Maia. E eu, que sou comunista, me pergunto como que essas pessoas são da mesma ala política que eu, se ninguém me avisou nada.

Essa falta de aprofundamento do debate faz com que, por exemplo, nenhum bolsonazista seja capaz de explicar o que Bolsonaro fez pelo país. Os seguidores do presidente não conseguem apontar alguma obra que ele tenha feito. De modo simplista, apenas repetem “ele é mito”, “acabou a corrupção”, “acabou a lei Rouanet”, “acabou a mamata”, entre outros.

Todas as discussões reduzem-se a frases. Não há aprofundamento, porque o fascismo deixa seus apoiadores em uma posição confortável. Isso se mostra, por exemplo, na classe média que não quer confusão, pois já tem problemas demais. Se seu filho é drogado, a filha é lésbica e parte da família tenta tirar seu dinheiro, a pessoa tenta acabar com tudo isso com uma resolução aparentemente simples.
Quando se rotula e se resolve tudo com uma frase, não há desenvolvimento do debate. Desta forma, nenhum bolsonazista consegue apontar o que Bolsonaro fez até hoje pelo Brasil que não seja meio milhão de mortos. Estes apoiadores apenas respondem que ele, supostamente, não é ladrão e que não rouba, porém isso não resolve nenhum dos nossos problemas.

Os seguidores bolsonaristas não conseguem dizer o que o presidente pode oferecer para o Brasil, esta grande a potência. A isto, eles podem responder que, ao menos, Bolsonaro é contra o PT, o que também não resolve nada e, portanto, não é argumento. Porém, é uma saída fácil aos ignorantes reduzir tudo a uma forma simplista de ler o mundo.

Ao final disto tudo, os bolsonazistas me mandam para Cuba e Venezuela. Quando descobrem que estou em Portugal, me mandam voltar ao Brasil. Entretanto, só voltaria ao país se eu fosse maluco, com o risco de ser torturado e morto, como foi assassinada Marielle e tanto outros, sobretudo como é a juventude negra das comunidades. Não voltarei para o Brasil para ser espancado no meio da rua e para ter que aturar apoio ao bolsonarismo.

O fascismo redunda deste reducionismo, pois é muito fácil rotular. Alguém afirma que a vacina é feita de fetos, de crianças mortas, e isso basta para que os fascistas reproduzam a frase e propaguem a noção de que os imunizantes não são confiáveis. Não há questionamento.

Ninguém aprofunda nada. E isso é muito confortável, pois não há necessidade de solucionar nenhum problema. Mas a vida é muito mais complexa do que o pequeno cérebro dos bolsonazistas pode compreender.

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