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(por Carlito Neto)

A chamada tropa de choque do presidente Jair Messias Bolsonaro tem utilizado, com frequência, o discurso de que há a possibilidade de existir um tratamento antecipado para covid-19 com hidroxicloroquina. Nenhum país sério no mundo recomenda a utilização deste medicamento, porque não há resultado eficaz contra essa doença em específico. Os resultados científicos mostram, justamente, o oposto: em alguns casos, o remédio pode até agravar a situação por causar efeitos colaterais severos, que podem comprometer a vida dos pacientes.

Nesta última semana, assim como na anterior, alguns senadores, dentre eles os senadores Girão e Bezerra, estavam defendendo a utilização da cloroquina para o tratamento da covid-19. O próprio presidente Bolsonaro vai pedir a 22 ministros que gravem vídeos dizendo que tomaram cloroquina, como se isso substituísse o resultado de uma pesquisa científica ou se isso pudesse ser utilizado como parâmetro. De modo análogo, eu posso dizer que tomei um copo de água e fiquei bom, mas isso não é um dado científico, porque não se teve um método científico de análise, nem o acompanhamento necessário para correlacionar a minha melhora ou não com a quantidade de H2O que eu ingeri.

Com frequência, os senadores governistas citam, na CPI, o médico francês Didier Raoult, que ano passado divulgou estudo com cerca de 42 pessoas com covid-19, que tomaram hidroxicloroquina e saíram muito bem na utilização deste medicamento, sem agravamento da situação e nem óbito, segundo o suposto estudo. A Universidade de Oxford e a Angers University também fizeram estudos com cerca de 250 pessoas e o resultado foi o oposto, ou seja, mostrou que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada nenhuma para melhora do paciente com covid-19, seja em estágios iniciais, médios ou mais agravados.

Atualmente, já se sabe que em alguns casos a situação pode ser agravada por causa dos efeitos colaterais dessa droga. Entretanto, alguns senadores parecem não acompanhar essa discussão, já que tanto o senador Girão quanto outros que citam com frequência o doutor Didier Raoult parecem ignorar o que o próprio médico falou no início deste ano.
No dia 4 de janeiro de 2021, em uma publicação feita no site do Centro Nacional de Informações sobre a Biotecnologia da França, Raoult declarou que “a necessidade de oxigenoterapia e transferências para UTI e o óbito não diferenciaram significativamente entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina com ou sem azitromicina e os controles feitos apenas com tratamento padrão”. Ou seja, ele disse que a utilização da hidroxicloroquina não melhorou significativamente a situação das pessoas, os números não mudam e não há uma melhora, como se fala.

Na entrevista, o médico francês também afirma que a única diferença que conseguiu perceber foi supostamente no tempo de internação com pessoas que usam hidroxicloroquina ou hidroxicloroquina junto com azitromicina. Segundo eles, essas pessoas tiveram tempo menor de internação, porém os dados da pesquisa dele não são conclusivos e não tiveram acompanhamento científico correto. Outras universidades reproduziram a mesma pesquisa que ele alega ter feito e os resultados foram antagônicos ao dele, totalmente diferentes, demonstrando a total ineficiência desse medicamento para o tratamento da covid-19.

Nacionalmente, temos o caso do médico de Sinop, Guido Céspedes, que criou o chamado “kit covid” e que faleceu, ainda no ano passado, de covid-19, depois de 45 dias internado. O doutor Guido Céspedes que estava na frente de combate à pandemia, criou esse kit que inclui hidroxicloroquina, azitromicina, zinco, ivermectina, ácido acetilsalicílico e ibuprofeno. Mais tarde, foi incluída também a vitamina D. E mesmo ele sendo médico e tomando esses medicamentos, Guido acabou acometido pela doença chegando ao óbito por conta da covid-19.

Houve também o caso de um enfermeiro no Rio de Janeiro que defendia a mesma tese da hidroxicloroquina. Infelizmente, ele também acabou sendo acometido pela covid-19 e perdeu a sua vida.

Portanto, os senadores que defendem a hidroxicloroquina estão compartilhando informações falsas na CPI, porque há estudos que comprovam que esses medicamentos não têm eficácia comprovada. Além disso, dos defensores desses medicamentos, o que ainda está vivo, doutor Didier Raoult já voltou atrás, admitindo que a eficácia não é comprovada, e o doutor Guido Céspedes acabou falecendo no ano passado pela doença e não teve tempo de voltar atrás.

De qualquer forma, com o passar do tempo, essas informações vão continuar sendo desconstruídas.

 

Carlito Neto é natural de Itabuna, Bahia, e vive em Aracaju, Sergipe, desde 2009. Graduado em História, criou e atua no canal “O Historiador“, no Youtube desde 2015, no qual posta vídeos sobre política e História. É especialista em ciência política enquanto cursa Direito. Define-se como socialista democrata e tem se valido das redes sociais, como no livro Falando de Política Sem Politiquês (2020), para disseminar o conhecimento sobre política, direito e igualdade social.
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#Bora Votar, escrito em parceria entre Carlito Neto e Sávio Nienkotter

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