(por Leonardo Stoppa)
O depoimento do Pazuello é, sem dúvidas, uma grande tramoia no meio da CPI da Covid. O ex-ministro começou sua fala de abertura tentando utilizar esse depoimento para fazer uma campanha política.
No caso, ele recebeu do STF uma espécie de blindagem para ele poder falar o que quer na CPI da forma como quer. Com isso, chegou com o texto totalmente elaborado com a finalidade de fazer marketing e política. O objetivo daquele texto de abertura não foi convencer o Renan Calheiros ou convencer qualquer pessoa da esquerda de que ele seria um bom menino, afinal de contas as pessoas que têm consciência do que está acontecendo olham para o número de mortes e para o caso de Manaus e compreendem que isso não é possível.
Por isso, aquele texto inicial foi elaborado de uma forma política que serve para o clube do Bolsonaro tentar reengajar as pessoas no bolsonarismo. Esse depoimento do Pazuello já começa cheio de contornos para tentar proteger a dignidade de um presidente fantástico que não teria imposto a cloroquina. É um depoimento que vai totalmente contra aquilo que tem sido falado pelos demais entrevistados do eixo bolsonarista.
Desta forma, ele trouxe elementos de proteção à presidência da república, porém esses elementos não serão de forma alguma engolidos por aqueles que já abandonaram o Bolsonaro. Isso significa que Bolsonaro chegou nos 24% de intenções de voto e não vai subir mais do que isso. Por conta disso, os bolsonaristas estão tentando agora segurar esse gado que está fugindo do curral. Mas quem já saiu do curral não volta mais.
Quando o Pazuello fala que eles saíram distribuindo o dinheiro para todas as cidades, porque eles não tinham condições de prever quais cidades seriam mais afetadas, isto por si só já é uma mentira descarada. Isso porque desde o início da pandemia sabíamos que as cidades mais afetadas seriam aquelas conectadas com o resto do mundo. Por isso, podemos dizer que as cidades com aeroportos internacionais seriam as que deveriam ter recebido a maior atenção no início da pandemia, a fim de evitar que essas cidades recebessem pessoas com a doença e a espalhassem para o resto do país.
Tecnicamente, se todas as cidades que tinham aeroportos internacionais tivessem sido fechadas no começo da pandemia, esta poderia ter sido contida dentro dessas cidades. Como alguém, que se diz especialista em logística e especialista em liderança de pessoas por causa do posto que conseguiu nas Forças Armadas, não sabe de uma coisa dessa?
Nas palavras do próprio Pazuello, o posto que ele conseguiu nas Forças Armadas está muito mais conectado ao fato dele ser filho de gente importante das Forças Armadas e da política do que ao mérito próprio. O fato de Pazuello ter trabalhado no passado com os hospitais das Forças Armadas também não é uma coisa conectada ao mérito, pois um civil não teria tido a oportunidade de liderar esses hospitais.
Esse depoimento do ex-ministro da Saúde assusta as pessoas, porque é um depoimento escrito por um marqueteiro ou, talvez, pelo Carlos Bolsonaro. Esse não é um depoimento de uma pessoa que tem obrigação de falar a verdade, de uma pessoa que não pode esconder os fatos. Por isso, aparenta ser um depoimento que parece ser crucial e que irá mudar a situação da CPI.
Entretanto, quem já saiu do bolsonarismo cansou de ser feito de bobo. O que o Pazuello falou pode não causar um efeito direto dentro da CPI, porque o Renan Calheiros sabe que ele não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Porém a imprensa e o público irão se debruçar sobre as coisas que o ex-ministro está falando e os outros depoentes irão apontar as incoerências em sua fala.
O Renan não está batendo de frente com Pazuello, porque o STF deu ao ex-ministro o direito de ficar tranquilo na CPI, como se tivesse na sala de casa, como se tivesse na rede da Carla Zambelli. Mas não podemos esquecer que, na sequência, teremos a doutora Cloroquina, que não recebeu do STF o direito de mentir.
Leonardo Stoppa é analista Político, graduado em Ciências Políticas, Economia, Ciências Contábeis e Pós graduado em Marketing Digital, Jornalismo Político, Engenharia Elétrica. É também Engenheiro Eletrônico (MIET), Engenheiro de Produção, Engenheiro Ambiental e Engenheiro de Segurança do Trabalho (CONFEA 1418043931), Administrador (CRA-MG 01-063714/D), Estuda Bacharelado e Mestrado em Direito.