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Nestas crônicas da vida vazia o copo segue cheio, daqui do décimo primeiro andar do precipício.

Da encosta, encontro nuvens gordas e destemidos vultos que me escapam sem que eu possa riscar direito as suas faces no papel.

Flamejam, entrecortados por calçadas e estantes.

Restam-me esboços, ruínas que farejo, fragmentos de vidas, miudezas, anotações.

Pedaços de existências deixados em meu prato sem que eu possa conhecer o sabor de suas histórias.

Ela me disse que ia.

Claro que eu sabia que não iria! Das pistas que deixou, arre! Conheço estes caminhos!

Do sorriso daquela, o que não disse, esfarelou-se no tempo.

O outro anoiteceu o silêncio e sumiu.

Essa não faria, acortinou-se, fez!

O que fazer com os rastros que transbordam a meada?

Deste relampear, encosto a face na mão espalmada.

Acena para mim a chama, baila seu fogo etéreo fazendo dança para a escuridão.

Enquanto embarco neste jogo, a crônica embrenha-se no xadrez labiríntico, é passageira do acaso.

Bogart está sem o cigarro na neblina, Ingrid parece aflita e apaixonada.

“Você vai pegar aquele avião.”

“Nós teremos sempre, Paris.”

A cerração esconde, véu derramado pelo passar do tempo.

Toque Sam, “As Time Goes By”

“Um beijo ainda é um beijo.”

Desligo as tomadas.

Há sentimentalidades nubladas e impulsivas torrentes.

Cantarolo baixinho – “Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos.”

Há neste tempo o sabor turvo do autoritarismo, as sombras do mau agouro!

Não cair nesta armadilha, tempos traiçoeiros de bocas golpistas e de embusteiros.

Daqui de cima, sentado, brado para o infinito!

13 vivas para a estrela felpuda!

13 dias para sermos felizes de novo!

As nuvens abrem suas comportas, dali, o rubro céu virá, fotografia de fim de tarde.

Desço calmamente em busca da outra esquina, seguirei para o outro lado da calçada, os carros inflamam asfaltos, os corpos vagueiam e a prima Vera. disse-me que – “Virá, impávida que nem Muhammad Ali.”

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