Search

Na feirinha do largo, subindo os degraus que levam as ruinas, no domingo ruidoso ensolarado, o sorriso da pequena e graciosa criança permaneceu, avistei na outra borda da escadaria, a mãe, olhava para a aldeia do infinito.

A maraca xamânica podia ser ouvida. Seguimos com passos curtos até o topo.

Outros rostos fugazes riscaram as retinas, em sua maioria vestidos de máscaras.

A senhora que vendia pulseirinhas infantis possuía um olhar fraterno, nossa menina cantou estrelinhas, escolheu a mais colorida, vinha com um anelzinho.

Autos de natal serpenteando a ladeira, cores arco-íris, garganta seca, caminhávamos olhando tudo e esfarelando memórias.

Hare hare cantavam uns, capoeira dançavam outros e o xamã já havia me deixado com o rosto que sorriu livre.

Leminski permanece pintado no muro, o vampiro continua fugindo do sol, o aroma do pastel seduz os sentidos, acarajé é sempre bem vindo, caldo de cana e a feira do poeta coladinha nas barracas, braseiro de versos.

No mercado Municipal, quase na hora de fechar, encontramos os peixes, nadando em diversos aquários, sorriso frouxo e encantado da menininha que fala sem parar.

Nestes dias, próximos do natal, virada de ano, o cansaço, as sentimentalidades refugiam-se numa gota de sangue no travesseiro.

Os fogos pintam o céu e não incomodam mais os ouvidos, o banho de mar levará tudo, brinde para abrir os caminhos, luzes de natal para a escuridão, vacina para apagar a peste.

Roda o curandeiro, dança de cura, xamã amazônico, limpa a alma, balança os espíritos da floresta, roda, chama, dança de cura, roda xamã, suaviza a dureza que foi mais este ano,

embolorado de farsas, fakes, cap farsa, jato farsa, fardas…Silêncios comprados!

Roda e cura! Chocalho e unguentos! Xamã amazônico e espíritos da floresta!

Ela se diverte com o brinquedo colorido, o sorriso da escadaria segue guardado.

Abro a lata e sorvo o líquido, assisto ao documentário de um poeta xamânico em pele de couro, caminho até a pequena biblioteca de minha casa.

Escrevo, penso sentir o cheiro da fumaça do curandeiro, trago um leve sorriso no rosto, quem sabe agora, consigo dormir.

 

 

Uma resposta

  1. Fábio Santiago, que poeta, escritor valioso. Sua crônica, cheia de cheiros, imagens e sons, fez-me querer estar nesta feira universal, pois aí tem todo o universo, democrático, desarmado alegre. Parabéns pelo texto especialíssimo. Um forte abraço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *