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(por Fábio Santiago)

O cachorro berrava AU, AU dia, enquanto eu caminhava de um cômodo a outro, a sorte será lançada em ruídos, refaço-me, quico o meu berro de álcool gel em retorcidas sinfonias atonais, janelas escrevem olhos, paredes tem pernas, não vacilo. 

Os martelos não lavam mais o calçadão da cidade com estrume e farsas supersônicas. Só o mofo marcha com seu bolor, acompanhando a tênia de nariz comprido.  

Em um dia encoberto por náuseas e febrões, entre esquinas virulentas, protejo a face em aspirinas de sobrevivência, tento reencontrar o passo, afastar a doença. 

A fria desumanidade assola estes tempos de mortalhas. 

Pressa combinada com respiração ofegante, faz com que tudo seja passado. As lentes dos óculos embaçam, criam borrões de incertezas, ofuscam a próxima quadra. 

Por entrecortes do bater das pestanas, O cadafalso esconde membranas. 

O álcool não encharca apenas a minha garganta, reveste o corpo, aloja-se no nariz, mora em vestimentas, perfuma a máscara, cola na pele, alimenta o grito. 

Berro quicado quer ir de encontro a uma cesta, caçapa, cantinho de rede para o gol de placa, quicado em vacinas benfeitoras, o meu álcool gel berra através da minha máscara – Vida! Vacina! 

Passos largos, inquietos, Passos largos querem voltar para casa, pintar tempestades!! 

Não vi quem passou! 

Não me viu!  

Rostos desnudos ainda confrontam a doença em lábios de ignorância. 

Onde a palavra prolifera subversões, remédio é urgência! Vacinação! 

O verme e o vírus meu caro professor, infelizmente não são alucinações, são parasitas e andam por aí em bando. 

Este ano nem o mar, assinava o poema engarrafado.  

Onde tudo, semióticas!! 

Quico o meu berro de álcool gel, transcendendo rupturas, respirar e existir. 

Neste baile de máscaras pela sobrevivência, reencontro a cidade com a urgência de chegar ao trabalho, ir para casa, refugiar-me. 

Grito abafado! Grito abafado e rouco de pigarro.  

Adeus sardas, farsas, dores, ditas. Vamos sair dessa! Fora! Já! Borram botas, ir embora. Lambe vistas. 

 

Da primavera transcendê-la. 

Andarei  

Ao lado da estrela que brilha e pisca, pisca muito, para todos nós. 

 

“A minha alucinação/ é suportar o dia a dia” (Belchior) 

 
 

Uma resposta

  1. Parabéns ao Kotter Editorial por trazer este texto cheio de realidades e poesia do Fábio Santiago, este grande escritor a especialmente admiro. Fábio, parabéns! Um beijo desta sua leitora e tiete. E que venha mais Fábio Santiago!

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