De pai para filho

PRÉ-VENDA

disponível a partir da primeira quinzena de outubro.

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“Por que ter um filho?!” – me perguntam.

 

No capitalismo tardio, após décadas de neoliberalismo, muitos estão sem educação, sem saúde, sem alimentação, sem trabalho, sem moradia, sem transporte, sem lazer, sem segurança, sem aposentadoria e sem participação nas decisões políticas que afetam suas vidas. Além disso, todos esperamos ser atingidos algum dia por eventos extremos provocados por ações humanas  prospectadas, autorizadas e administradas com fins lucrativos. Enquanto isso, minorias sexuais são usadas de bodes expiatórios por quem agrava o drama social. Neste cenário, alastra-se uma sensação justificável entre nós trabalhadores de que viver não é bom e que ficará pior, donde alguns de nós concluem que seria errado colocar outrem neste mundo. A situação é tão grave que, para repor os trabalhadores, os donos do poder tentam obrigar meninas e mulheres a terem filhos até mesmo de estupros.

Acho que, por isso, muitos se surpreendem quando um homem como eu decide ser pai solo atualmente. Este livro é uma carta em poemas ao meu filho, explicando a ele os motivos que me levaram a tê-lo. Talvez compartilhando esses poemas com você, leitor, leitora, leitore, eu consiga responder à pergunta que me fazem. “Por que ter um filho?”

Daniel Couto Valle Ponto

 

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O que é ser pai? Toda criança precisa de uma mãe?

Essas dúvidas afligem todo homem que deseja criar um laço com os seus filhos similar ao que uma mãe tipicamente cria na nossa sociedade.

No caso de um pai solo na Alemanha, surgem mais dúvidas. Como fazer para que a nossa família seja completa, ainda que o meu filho não tenha uma mãe, em uma sociedade que valoriza tanto os vínculos genéticos? Como fazer para que o meu filho não se sinta o “escolhido” ou um “membro de uma raça aprimorada” sendo que eu o selecionei após análise genética de vários embriões e sendo que ele vive em uma sociedade que não só promoveu um genocídio para “aprimorar a raça” como também ainda discute esse plano na política?

Aqui entram as minhas cartas-poemas. Seguindo a estrutura da poesia clássica, escrita para ser memorizada e cantada, construo versos que servem de mantra, versos para serem lembrados quando o meu filho mais precisar deles, versos com os quais conto o que ele não viu, mas que revelam nas letras, nos sons, nos tons e nos ritmos a farsa da “paternidade genética” e o que nos faz bem considerar família. Ao fim, revelo a ele o que lhe deixo de herança neste novo tempo.

Aos leitores e ouvintes destas cartas-poemas, eis aqui uma nova paternidade possível, a qual foi precisamente planejada por mim para ser bem diferente daquela que eu recebi do meu pai.

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Nestas cartas-poemas, tento convencer o meu filho de que sou pai dele porque exerço o papel de pai e que o faria ainda que não compartilhasse padrões genéticos com ele. Afirmo por experiência que quem buscou uma paternidade prescrita nos genes, não a encontrou. “Com isso fazem o mesmo que os amantes jovens correndo atrás dum amor escrito nas estrelas.”

As cartas-poemas evoluem e vão muito além do apontamento das várias mentiras que se conta à respeito da genética, alcançando uma segunda dimensão: a realidade material na qual se encontram as famílias que existem exatamente porque são observadas e são reconhecidas como tal. Tentando responder à difícil questão sobre como nomear o novo sem produzir fantasmas de mães ausentes e famílias ancestrais, explico, entre outros, o fato de ter solicitado o novo sobrenome “Ponto” para mim e para ele: “Você num veio para carregar o nome. O dei para a família que você me prouve.”

Aqui se levanta a angústia última. O que resta então de herança para um filho de trabalhador se nem os genes nem o nome importam? A mim só me coube propagar a praxe de agir para remoldar as estruturas da sociedade. Muito porque nós só nos tornamos família porque “não agimos sempre como lemos sem ao menos refletir se assim queremos.” e porque “cultura é ato, ação de cultivar o trigo. O joio separamos, não plantamos mais.”

Daniel Couto Vale

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Título: De pai para filho

Autor: Daniel Couto Valle Ponto.

1 ed.
Curitiba : Kotter editorial, 2024.
72 páginas

13X19 cm.
ISBN 978-65-5361-349-2

R$ 49,70 R$ 24,85

Disponível por encomenda

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Introdução à Jornada Emocional e Reflexiva

De Pai Para Filho, de Daniel Couto Valle Ponto, é mais do que apenas um livro; é um testamento de amor, identidade e legado. O autor, com uma prosa poética e profundamente pessoal, convida o leitor a explorar a complexidade das relações familiares, da genética e das escolhas que moldam nossas vidas. Este livro, escrito durante uma semana crucial na vida do autor, é uma carta aberta ao seu filho, onde cada palavra carrega o peso de um futuro que ele deseja construir para sua família.

Estrutura e Temas Centrais

Dividido em seções que mesclam prosa e poesia, o livro aborda temas fundamentais como a “grande mentira” contada sobre as relações genéticas, a linha de descendência que, segundo o autor, vai além do sangue, e a realidade física e metafísica da família que ele escolheu construir. De Pai Para Filho é também um diálogo direto com o filho sobre verdades que o autor deseja perpetuar, desmistificando crenças sociais e científicas comuns sobre a paternidade e a hereditariedade.

A Importância da Genética na Identidade

Um dos temas mais marcantes do livro é a desconstrução da ideia de que a genética define quem somos. Daniel reflete sobre como, apesar de carregarmos genes de nossos antepassados, nossa essência e os laços de amor que construímos não estão predestinados pelo DNA. Em poemas e reflexões, ele desafia o leitor a reconsiderar o que significa realmente ser uma família e como as escolhas pessoais e afetivas moldam nossa identidade.

Fertilização In Vitro e o Amor que Transcende

A fertilização in vitro, descrita com termos técnicos e ao mesmo tempo carregados de significado emocional, é retratada como um ato de amor e de escolha consciente. Daniel mostra que trazer uma criança ao mundo através desse método é tão natural quanto qualquer outra forma de concepção, e que o amor e o desejo de construir uma família são os verdadeiros alicerces dessa decisão.

A Metafísica da Paternidade

Na seção metafísica, Daniel expande o conceito de paternidade para além do físico, explorando como as ideias e crenças culturais influenciam nossa visão de mundo e as relações que construímos. Ele prepara o filho para um futuro onde a multiplicidade de culturas e idiomas será uma riqueza inestimável, enfatizando a importância de abraçar a diversidade e as várias identidades que ele herdará.

A Autobiografia Como Legado

O livro se encerra com a autobiografia do pai do autor, oferecendo para seu neto uma conexão direta com o passado familiar. Essa narrativa serve como um elo entre gerações, mostrando como os sonhos, desafios e conquistas dos antepassados moldam as oportunidades e escolhas das gerações futuras.

 

Sobre o autor:

Prezado, prezada, prezade, este sou eu, Daniel Couto Valle Ponto, segurando o meu filho, Lauro Valle Ponto, logo após ele nascer em Odessa, Texas. A foto foi tirada na sala do parto pela mãe adotiva da gestante, orgulhosa da filha por esta ter viabilizado uma paternidade a alguém que, como a sua mãe, não é capaz de gestar o próprio filho. Sou autor das cartas à doadora de óvulos, à gestante e ao meu filho. O meu pai, Lourival de Castro Vale, é autor da carta autobiográfica aos seus colegas e parentes, pela qual ele anuncia o seu neto.