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Lá vai um breve (e singelo) texto sobre o Rabicó de Puto:

“das coisas 
que eu fiz a metro 
todos saberão 
quantos quilômetros 
são

aquelas 
em centímetros 
sentimentos mínimos 
ímpetos infinitos 
não?” 
– Paulo Leminski

Dois anos depois do lançamento, pude enfim dormir espiando a rabeta da puta. A sociedade não aceitaria, nós aceitamos. Assim, observando a silhueta de um porco-espinho, pude afagar versos que o silêncio perpetrado pela acovardada hesitação, não permitiu num tempo passado. Ele ficou lá, nós estamos cá. Hoje, cavocamos as profundezas das casas que ainda iremos habitar, esperando no bailado noturno, abençoar os xamãs que nos embebem de poesia.

Se o século viciou-se, como inventar? Propondo um campo de batalha. Pois, para afrontar o desconhecido, é necessário estar preparado, ter estudado sua tipografia. Estudo e prática se entrecruzam. E, como o poeta não descansa, é poeta todo dia, é preciso sê-lo entre o sonho e a vigília, entre a guerra e a estratégia.

se alguém me espreitasse 
atrás daquela porta estreita 
sossélla 

Perambulando entre escombros e fagulhas, tu encontraste o caminho do não dito. O impossível tornado possível. Se alçou voo, era para pisar em terra firme, “ou para provar que só se é prosaico depois de se saber sublime.” (Wilson Bueno). O popular como caminho da concórdia, entre o bom e o mal dia. Talvez, o popular subvertido, numa roupagem de humor atinado. Pode-se enxergar um viés zombeteiro? É pelo zombar das estripolias da vida e da palavra que se segue. A excessiva seriedade nos deixaria nas salas universitárias, fazendo malabares com conceitos falidos. Mas vamos ao que importa. 

Como esses versos se comunicam, nos confundem, nos surpreendem? Enquanto alguns versos são esticados, outros são encurtados. Espicha-se para alcançar um mais além. Encurta-se para criar um aquém. Questionam. Irrompem pelo inesperado. Brotam para germinar mesmo que em flores mortas. O que é incontestável, é o sabor adocicadamente cítrico de uma poesia tão sua, tão luminosamente escura. 

É redundante falar de imagens na sua poesia? Concluirei (se é que isso seja possível) atravancado pelo pleonasmo. Os planos, fixos ou em sequência, se dilaceram pelos espaços variados, se contorcem, se iluminam. Chafurdando-se entre eiras e beiras, fitam cada poça mal iluminada… Rindo de quem pisa na lama, mas escorregando na próxima esquina.

Em ”Rabicó de Puto” há um tabuleiro talhado com as próprias mãos, e ainda sim, um tabuleiro sem linhas. A liberdade dentro do circunscrito. Se o leitor achar que encontrou o caminho para a leitura, será convidado a rir junto do arqueiro atento, uno, respirando para se fundir junto ao seu alvo. 

Atenciosamente,
Matheus Petris 

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