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por Daniel Osiecki

 

O crítico literário e cientista político português Boaventura de Sousa Santos, afirmou ao Jornal O Globo que o Brasil será o próximo país a colapsar, aos moldes de Chile e Equador. Os caminhos que esses países seguiram no passado e que reproduzem atualmente (lembremos que o Chile foi o laboratório neoliberal na América Latina a partir de 1980) são tortuosos e estão provando, como se pode ver todos os dias nos jornais, que a população não aguenta mais ser subserviente ao capital estrangeiro.

Na sexta-feira 25/10, o Chile teve o maior número de manifestantes nas ruas de diversas cidades, ultrapassando um milhão de pessoas que, mesmo sendo covardemente agredidas pelos militares, continuaram sua caminhada. Vários presos, mortos, feridos fizeram coro a tantos outros mortos em 1973, durante o golpe de Pinochet que depôs o presidente Salvador Allende, eleito legitimamente (recomendo ao leitor e à leitora o documentário No, disponível no you tube).

Parece que aqui em nossas paragens os dementes que comandam esse hospício são entusiastas de personalidades como Pinochet e Franco, o ditador fascista espanhol que teve seus restos mortais removidos do mausoléu onde se encontrava. Fato que incomodou muito o lisérgico ministro da educação, “Abe” Weintraub, como o próprio sinistro, ops!, ministro, se auto referiu na coletiva de imprensa no dia 18/10 ao anunciar o descontingenciamento total no orçamento discricionário das universidades e institutos federais. Ao terminar sua frase com aquela arrogância e boçalidade tão peculiares entre bolsonaristas, coloca aqueles óculos do meme “Thug Life” e dispara: “Abe is out!”.

Seria hilário se não fosse deprimente ver um ministro de uma das pastas mais relevantes do país agindo como um adolescente do ensino fundamental que acabou de descobrir a masturbação. Segundo o MEC, o valor liberado foi de R$771 milhões para as universidades e cerca de R$336 milhões para os institutos. Vale lembrar que em abril, o MEC anunciou o bloqueio das chamadas despesas discricionárias, ou seja, as não obrigatórias. E como se tivesse se saído muito bem de uma situação constrangedora, essa figura deprimente que assumiu a pasta da educação, com seus óculos do meme, larga o microfone sobre a mesa e dá as costas aos jornalistas.

Agora a referência disso tudo com os acontecimentos do Chile e Equador: não é possível que continuemos nessa apatia reinante e que aceitemos situações como essa do ministro, as disputas pelo poder entre os filhos do presidente medíocre e a deputada federal Joyce Hasselman. Esse fato extrapola qualquer noção de bom senso e que já seria mais que suficiente para tomarmos as ruas e mostrarmos à elite que colocou essa escória no poder, que estamos vivos e que nos importamos. Espero mesmo que Boaventura de Sousa Santos esteja certo, mas ainda não vejo essa possibilidade.

P.S.1- Fica aqui minha nota de pesar pelo falecimento do grande músico e compositor Walter Franco, morto na última quinta-feira. Fará falta!

P.S.2- Fuerza, Chile!

 

*Daniel Osiecki nasceu em Curitiba, em 1983. É professor de literatura, crítico literário e editor regional da Revista Flaubert. Publicou o livro de contos “Abismo” (2009). “Sob o signo da noite” (contos) é seu segundo livro. Mantém o blog “Távola Redonda” (www.novatavolaredonda.blogspot.com), organizador do coletivo “Vespeiro”

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