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por Daniel Osiecki

Levando em consideração minha insistência em abordar nesta coluna temas relacionados ao atual governo, o (a) ilustre leitor (a) pode vir a pensar que é perseguição e que torço para que tudo continue dando errado. Os 100 primeiros dias de bolsonarismo institucionalizado foram tão medíocres e caóticos que ninguém precisa torcer contra, pois sua própria cúpula é seu pior inimigo.

Mesmo assim, mesmo tendo assuntos de sobra a abordar nesta humilde coluna que dizem respeito ao recruta zero e a seus zeros à esquerda, eu havia decidido escrever sobre o que mais me interessa: literatura. Até havia separado uma resenha que escrevi há bastante tempo sobre um belo livro de um poeta amigo, mas de repente o Sr. Vélez Rodriguez cai e quem assume a pasta da Educação é um ex-aluno do guru Olavo de Carvalho, Abraham Weintraub. Sim, leitores e leitoras, fiz a mesma cara de desconhecimento total, pois nunca havia ouvido falar sobre o novo ministro; fato que também ocorrera quando Bolsonaro anunciou Vélez Rodriguez para a pasta.

Abraham Weintraub é mais um nome do atual governo que, além de mentir sobre seu Lattes (uma simples consulta à plataforma o desmentiu sobre ter doutorado), também foi indicado diretamente pelo guru bolsonarista da Virgínia, o youtuber idoso. O atual ministro sofre de megalomania, assim como seu antecessor. Weintraub é economista e especialista em direito previdenciário. Tem mestrado em administração pela FGV e foi nomeado secretário-executivo da Casa Civil no dia 1º de janeiro. No dia 8 de abril foi nomeado Ministro da Educação do Brasil.

A demissão de Vélez causou certo atrito entre a ala militar do governo e discípulos de Olavo de Carvalho, pois a pasta da educação é uma das mais visadas. Desde a queda de Vélez, nem por um único segundo, esbocei alguma espécie de contentamento, pois sabia que não viria nada melhor pela frente. Continuamos e adentramos cada vez mais na era do obscurantismo, do retrocesso, da censura, da caretice. Os retrocessos não se restringem, naturalmente, à educação, avança também a passos largos pela cultura, pelo meio-ambiente, pela justiça, pela economia e em todas as frestas em que o presidente e seu guru alcançaram. Há de se levar em consideração que o novo ministro deu mais importância ao montar seu staff a administradores e a gestores do que a educadores. Isso diz muito sobre as tendências do bolsonarismo.

Mas se o leitor ou a leitora ainda não ouviram ou leram algumas das pérolas do novo ministro, eis algumas (lembremos que Weintraub é ex-aluno dos Seminários de filosofia de Olavo de Carvalho, como vários membros de seu ministério, como Carlos Nadalim, titular da Alfabetização). A seguir três comentários de Weintraub.

1 – “Os comunistas são o topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras. Eles são os donos dos jornais. Eles são os donos das grandes empresas. Eles são os donos dos monopólios”.

2 – “Quando um comunista chegar para você com o papo “fróim nhoim nhoim”, xinga. Faz como o professor Olavo de Carvalho diz para fazer. Xinga! E quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais”.

3 – “Em vez de as universidades do nordeste ficarem aí fazendo sociologia, fazendo filosofia no agreste, (deveriam) fazer agronomia em parceria com Israel”.

É difícil elencar o pior absurdo ou o maior grau de loucura, mas é realmente isso o que tem por enquanto. Um lunático que é discípulo de outro lunático sob a batuta de um capitão do mato que, por sua vez, adivinhem, é lunático.

OBS. 1: Minha total e sincera solidariedade à família de Evaldo dos Santos, músico brutalmente assassinado pelo exército brasileiro na tarde de 7 de abril deste ano. Foram mais de 80 tiros disparados contra o carro da família.

Obs. 2: Minha nota de repúdio ao exército brasileiro por mais esse crime nefasto e ao ministro da justiça, Excelentíssimo Senhor Sérgio Moro, por dizer que o assassinato foi um “incidente”.

*Daniel Osiecki nasceu em Curitiba, em 1983. É professor de literatura, crítico literário e editor regional da Revista Flaubert. Publicou o livro de contos “Abismo” (2009). “Sob o signo da noite” (contos) é seu segundo livro. Mantém o blog “Távola Redonda” (www.novatavolaredonda.blogspot.com), organizador do coletivo “Vespeiro”.

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